quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A ostra, o grão de areia e a pérola (1)


- Nossa Ana!!! O que aconteceu por que você esta chorando? – pergunta João assustado
- Por nada, não.
- Esse nada parece bem ruim. Nunca vi você assim. Na verdade nunca te vi chorar.
- Você não me conhece há muito tempo, então não pense que me conhece, por que com certeza você não me conhece. – Fala Ana enraivecida.
- Eu concordo com você, mas você pode me contar por que esta assim, dessa maneira eu vou passar a te conhecer. – Fala João com uma voz baixa e doce.
João se aproxima e limpa algumas lágrimas que rolavam face abaixo de Ana. Enquanto ela olhava para ele com um olhar assustado pela gentileza e comovido por ele não ter ido embora e sentado ao seu lado.
- Agora me conte o que aconteceu. O que poderia ser assim tão ruim que merecesse tantas lágrimas. Olhe para esse céu, para o sol, olhe essa árvore que nos acolhe nessa refrescante sombra debaixo de seus braços. – Fala sorrindo afetuosamente enquanto acaricia o ombro de Ana demonstrando que realmente estava presente e preocupado.
Ana enxuga suas lágrimas e engole outras tantas. Enquanto olha ao seu redor e para o João com uma sensação tão boa. A sensação de que alguém a via, se preocupava e estava disposto a falar sobre seus problemas. Isso era um alivio e fez com que Ana parasse de chorar.
- Só você mesmo, João.  Fala Ana com um sorriso sem jeito, tampando a boca.
- Não me enrola, fala logo. O que aconteceu para você ficar assim.
- Quer mesmo saber?
- Não, eu perguntei por perguntar. Claro que eu quero. Fale.
- Na verdade isso já vem há bastante tempo. Eu percebi que sou diferente.
- Diferente, diferente como? Explique melhor esse diferente.
- Diferente. Assim... hummm... Eu não vejo graça em brincar como as outras crianças, eu não gosto do que normalmente as outras crianças gostam. E ainda para ser pior não gosto do trabalho de ajudar minha mãe, sempre prefiro ajudar o meu pai. Enquanto todas as meninas querem ser professoras, médicas sei lá, eu quero ser policial. E hoje quando estava saindo com meu livro para o recreio as meninas me chamaram de aberração. Disseram que eu sou feia, que meu cabelo parece crina de cavalo e que eu sou uma Maria Farrapo. Eu sei que minha calça é feia, mas o que eu posso fazer se minha mãe arrumou a do meu irmão e esse tênis horrível, mas era o mais barato que tinha. Não estou assim por que as meninas falaram, mas é por que meu irmão fala a mesma coisa. Eu to cansada de ouvir que sou lixo.
- Ah!!! Agora sim consigo compreender o motivo de tantas lágrimas. Da dor.
- Você esta chorando por que as meninas disseram que você é diferente ou que você se veste mal?
 - E tem diferença?
 - Claro que sim. O se vestir bem ou não é algo que depende de cada pessoa. Eu por exemplo não vejo nada de estranho na sua roupa. A roupa que você veste não faz você, apenas te protege do sol, do vento, da chuva, mas é só isso, qualquer outro sentido é de cada pessoa, e sendo assim. O que eu gosto você pode não gostar e vice e versa. Então chorar por isso e tempo jogado fora, agora se você esta chorando por que é diferente também não vale a pena. E daí? Todos nós somos diferentes. Não existe um só ser no mundo que seja idêntico a outro.


Continua...

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