terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O BATISMO DO SENHOR



 
Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.


O ano litúrgico começa com o Tempo do Advento, em preparação para o Natal do Senhor, em fins de novembro, início de dezembro. Segue-se o Tempo do Natal, um breve período de no máximo três semanas, terminando na segunda quinzena de janeiro, aproximadamente. Com a Festa do Batismo do Senhor, termina o ciclo de celebrações do Natal e inicia-se o Tempo Comum, tempo ordinário das celebrações litúrgicas, salpicadas por diversas memórias, festas e solenidade, classificação das cerimônias de acordo com a importância da comemoração para a compreensão do Mistério da Salvação, ou seja, o conjunto das celebrações que lembram as grandes ações de Deus em favor de nossa salvação.

Todo o calendário litúrgico gira em torno da Solenidade da Páscoa do Senhor, ápice de toda celebração do mistério cristão. Calculada a data exata da Páscoa, todo o calendário se organiza, apontando sempre para a obra salvífica por excelência: a ressurreição de Jesus Cristo, por quem alcançamos a salvação.

No início do Tempo Comum, temos essa celebração bastante desconhecida para a maioria dos cristãos: o Batismo do Senhor. A festa lembra o momento no qual Jesus se deixou batizar por João, chamado o Batista. Aquele personagem profético que surgiu na época de Jesus e era bastante controverso. As autoridades judaicas não queriam reconhecê-lo como profeta, a despeito do povo reconhecê-lo como tal. Ele vivia no deserto pregando um batismo de conversão, na espera da salvação de Deus que estava próxima. Essa salvação viria como um julgamento que separaria os bons dos maus, por isso era tempo de conversão. Os Evangelhos nos narram que João era primo de Jesus. São Lucas diz que Maria, a mãe de Jesus, logo que recebeu o anúncio do arcanjo Gabriel de que ela fora escolhida para ser a mãe do salvador, ela também recebeu o anúncio de que sua prima Isabel e Zacarias estavam esperando um filho na velhice por graça de Deus. E Maria toda solícita pela sua prima vai até sua casa prestar-lhe auxílio até o nascimento de João.

A pergunta que se coloca desde o início diz respeito ao motivo que levou Jesus a se deixar batizar por João no rio Jordão; justamente Jesus não precisava de um batismo de conversão. Podemos entender o fato por dois motivos: por duas linhas sucessórias. O primeiro diz respeito à linha sucessória profética. Jesus se deixa batizar por João, porque ele representa o último profeta do Antigo Testamento. Doravante, com Jesus, inicia-se o Novo Testamento, sinalizado pela Nova e Eterna Aliança estabelecida em Jesus, o Filho de Deus. É nessa oportunidade que João aponta para Jesus e diante de todos diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Assim, completa-se a Antiga Aliança e inicia-se o regime da Nova.

A segunda linha sucessória diz respeito à relação mestre-discípulo. Jesus é reconhecido como Mestre da Lei, uma função religiosa muito respeitada e nobre entre os judeus. Um Mestre da Lei tem a função de viver exclusivamente de interpretar a Lei de Deus e ensiná-la com sabedoria e propriedade ao povo. Mas um mestre não se forma, senão por outro mestre. Sua autoridade vem do mestre com quem aprende a interpretar as Escrituras. Jesus não teve propriamente um mestre, mas ligando-se a João Batista, ele aponta para todos os judeus a que interpretação da Lei ele se filia. Com efeito, a partir das sucessões profética e magisterial, Jesus é a continuidade do trabalho de João e mesmo sua plenitude. Logo após seu batismo no rio Jordão, Jesus inicia sua missão pública, que duraria três anos até sua morte de cruz e sua ressurreição ao terceiro dia.

Por conseguinte, na festa que celebramos o início da missão pública de Jesus, iniciamos no calendário litúrgico o Tempo Comum, o tempo das celebrações ordinárias da Igreja, quando temos a oportunidade de lembrar e meditar nas palavras de Jesus e nas suas ações em favor de todos aqueles que com ele se encontravam.


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