sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

QUEM TEM MEDO DA LITURGIA?

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)






Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.


            Desde o primeiro de meus artigos no Musu Lietuva venho falando de liturgia. Para cada artigo escolho uma festa litúrgica mais significativa do mês e aproveito para falar sobre ela e desenvolver algum assunto de fé a ela relacionado. Assim podemos refletir sobre a nossa fé e indicar a importância da liturgia na vida do cristão.

            A proposta é simples, mas, reconheço, não deixa de causar certo estranhamento. Afinal, quem sabe exatamente o que é liturgia? A maioria das pessoas não ouviu falar de liturgia durante a sua formação  catequética. Pelo menos, assim vejo acontecer com a maioria dos cristãos católicos que vem conversar comigo.  A palavra “liturgia” causa até a repulsa esperada de quem ouve um termo técnico que desconhece. Parece um termo teológico sofisticado, que alguns teólogos imoderadamente zelosos querem fazer os leigos entender a todo custo.

            No entanto, a liturgia é o centro da vida da Igreja e da vida pessoal de fé. Ela muda tudo para nós.  De maneira geral, liturgia é toda celebração da Palavra de Deus na Igreja. A missa é uma liturgia. Toda celebração de algum sacramento é uma liturgia. A liturgia é, enfim, a oração da comunidade de fé. Nada mais simples do que isso, porém isso faz toda a diferença.

            Perguntam muitas vezes a nós católicos qual é a diferença entre os cristãos católicos e os evangélicos. Eu ouso responder: a liturgia!  Normalmente, se responde que é a salvaguarda da função do Papa, a veneração de imagens ou alguma questão doutrinal particular. As respostas variam muito, porém nada mais contundente do que a liturgia.

            Há uma diferença muito grande entre aqueles que acreditam na Palavra de Deus, na Bíblia, e buscam sinceramente praticar os seus ensinamentos e aqueles que assim também o fazem, porém sabem que a Palavra de Deus deve ser ouvida e celebrada primordialmente na liturgia. O poder da Palavra não se restringe em algum milagre, que pode favorecer esse ou daquele crente, por mais maravilhoso que ele possa ser, como a cura de um câncer ou retomar a visão. Ninguém nega a grandeza disso. Porém, o benefício maior de Deus na nossa vida e na vida de todo fiel é a Eucaristia. O poder maior da Palavra de Deus proclamada na assembléia é o fato de transformar o pão e o vinho em corpo e sangue de Cristo. Ouvir e colocar em prática a Palavra de Deus é muito mais do que seguir uma norma moral. Na Igreja Católica, ouvir e praticar a Palavra de Deus tem seu início e seu fim na liturgia, quando o Povo de Deus se reúne para celebrar a Palavra de Deus e oferecer a Deus por Jesus Cristo um louvor perfeito.

            A liturgia é a expressão maior da sacralidade de cada vida humana e da Palavra de Deus transmitida aos homens. Os católicos são aqueles que ouvem a palavra de Jesus de que devemos amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 19,19; 2,39; Mc 12,31; Lc 10,27; Rm 13,9; Gl 5,14; Tg 2,8), ouvem ainda de Jesus que todos saberão que somos discípulos dele se amarmos uns aos outros (cf. Jo 13,35). E ouvindo esses dois ensinamentos, os católicos são aqueles que não os separam do “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19; I Cor 11,24). Seguir a palavra de Jesus é reunir-se com os irmãos de fé em torno do mesmo altar e celebrar o milagre eucarístico, e, assim fazendo, levar toda essa riqueza para o seu dia-a-dia. Quem comunga do corpo e do sangue de Jesus é aquele que busca em sua vida a justiça, a retidão, o amor fraterno; é aquele que aprende a agir com prudência e sabe reconhecer com clareza as próprias maldades cometidas. Sabe pedir perdão a Deus e se reconciliar com o próximo. Em tudo isso, o católico é aquele que tem como ponto de partida a mesa eucarística e a tem como ponto de chegada. Pois não é outro o que celebramos, senão o próprio Filho de Deus, que se encarnou por nós, para nos salvar e para reunir em si uma multidão de irmãos em Deus.
           
            Não nos esqueçamos nunca: a nossa identidade de cristãos é forjada e aprimorada na liturgia. Por meio dela, nós reconhecemos todos os benefícios que Deus fez em favor da humanidade e qual a esperança a que Ele chama a todos nós.






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