sábado, 4 de fevereiro de 2012

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO


Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
            Durante a celebração da missa, após a oração eucarística, é reservado um espaço especial para a oração do Pai nosso. Trata-se da oração do cristão por excelência, porque foi o próprio Jesus que a ensinou a seus discípulos. Muito já se comentou sobre ela e não se poupou elogios pela concisão de sua fórmula. Ela resume em si o sentido da vida cristã, uma lição sobre a oração e o sentido do relacionamento do fiel com Deus. Pode-se entender bem isso, se recorrermos ao contexto no qual ela é ensinada aos discípulos, tal como está narrado nos Evangelhos (Mt 6,5-15 e Lc 11,1-13).

            No Evangelho de São Mateus, a oração do Pai nosso é inserida no contexto do sermão da montanha, particularmente no momento em que Jesus fala sobre as três práticas piedosas que todo bom judeu está obrigado: jejum, oração e esmola. Jesus chama a atenção para o fato de que essas práticas devem ser realizadas preferencialmente em segredo, a fim de evitar que elas sejam realizadas apenas com o intuito de atrair da parte dos outros a fama de judeus piedosos. Assim, aqueles que procedem de modo diferente correm o risco de se comprometessem mais com a boa fama, do que com o sentido religioso da prática.

             Por fim, Jesus destaca a importância do perdão ao próximo, vinculando o perdão recebido da par  te de Deus ao perdão concedido àquele que peca contra nós. A insistência no perdão ao próximo tem um sentido especial no contexto do sermão da montanha, no qual Jesus ensina aos judeus a respeito da justiça de Deus atestada pela Lei. Jesus reafirma que não veio abolira a Lei, mas levá-la à plenitude. Ele diz isso contra aqueles que o acusavam de ser leniente com as práticas da lei de Moisés. Os discípulos de Jesus devem ser rigorosos na prática da Lei de Deus, entretanto é especialmente pedido a eles que perdoem os seus inimigos e aqueles que os perseguem, pois todos somos irmãos diante de Deus e também nós somos devedores do perdão divino. Em suma, não há prática justa, nem piedosa, onde não há lugar para o perdão.
           
             No Evangelho de São Lucas, o cenário é diferente. A polêmica tensa com os judeus no sermão da montanha cede lugar ao pedido singelo do discípulo de Jesus, que pede que ele o ensine a rezar, já que assim também fizera João Batista com seus discípulos.  Antes do pedido, Jesus havia voltado do lugar retirado no qual ele estava rezando. Os discípulos de Jesus testemunharam muitas vezes Jesus retirando-se para rezar e, muitas das quais, ele passava a noite toda em oração. Certamente, o testemunho de Jesus despertou no coração dos discípulos o desejo de rezar.

            Hoje, nós católicos sabemos bem sobre a importância da oração. Dificilmente, imaginaríamos que Jesus demorasse a ensinar a seus discípulos a rezar, visto que a oração é parte essencial da vida do cristão. Pois bem, em Lucas, Jesus espera que seus discípulos peçam para ensiná-los a rezar. Ele não adianta seu ensinamento antes disso, mesmo se tratando de um ensinamento tão importante. Por que ele procede assim? Porque o ensinamento sobre a oração só pode ser bem compreendido por aquele que tem no coração o desejo sincero de rezar. Ouso dizer, mas sem receio nenhum de errar, que o cerne da oração bem feita é a sede de Deus que conservamos no coração. Para quem tem saudades de Deus e deseja estar em sua presença, qualquer simples pedido se converte em uma grande oração.

            Não se trata de pensar que a oração seja apenas um sentimento sincero de estar com Deus. A oração nos insere no âmago da vida divina. É a aceitação de um convite que o próprio Deus nos faz de estabelecermos uma comunhão de vida com Ele. Para isso, ele nos enviou seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, que deu sua vida em resgate de muitos e nos transmitiu a Palavra de Deus, à qual devemos aderir pela obediência da fé.  Com efeito, a oração encontra a melhor disposição em nós pela sede de Deus e encontra o seu ápice na compreensão da palavra de Jesus e na atitude de segui-la. Por isso, o significado das palavras da oração do Pai nosso completa o ensinamento sobre o ato de rezar e nos insere no mistério da vida cristã.

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