segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Páscoa de Jesus - O Lava Pés

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)
                                        



Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.


            Após o tempo de preparação, chega a festa. Como acontece segundo a ordem das coisas humanas, quanto mais nos preparamos para celebrar a festa esperada, ficamos mais contentes com a sua chegada. Celebrar a festa da Páscoa, contudo, traz uma espécie de alegria renovada, que faz esquecer as negligências do passado. Nada mais importa, o Senhor ressuscitou. Alegram-se os amigos de última hora, que ficaram aos pés da cruz de Jesus; alegram-se aqueles que o abandoaram no momento derradeiro, porque nada mais importa: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente” (Lc 24,34).

            Em seus últimos dias, foi o próprio Jesus Cristo que disse aos seus discípulos: “Há tanto tempo espero para comer essa Páscoa convosco, antes de sofrer” (Lc 22,15). Alertou-os, dizendo que é bom para eles que ele parta, porque assim ele envia o seu Espírito Santo que recebe da parte do Pai e o dá abundantemente a seus amigos (cf. Jo 14-17). Era quinta-feira, às vésperas da Páscoa dos judeus. Ele sabia que seria entregue nas mãos de seus algozes e seria amargamente traído pelos seus. Sabia que sofreria a crueldade da injustiça do pecado, arraigado nos corações humanos. Era justamente para desalojar definitivamente essa injustiça do coração humano que ele veio ao mundo. Precisava sofrer tudo isso, a fim de que viesse a alegrar a tantos quantos sofriam interior e exteriormente as consequências do pecado. De momento, ele só podia ainda adiantar a seus discípulos que tivessem coragem, porque “Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

            Este é o momento mais sublime da celebração litúrgica do calendário cristão. Os discípulos de Jesus não podiam deixar passar despercebidos os acontecimentos que culminam na morte de Jesus e, sobretudo, no seu momento mais glorioso, quando ressuscita e anuncia, com a força de sua própria vida resplandecente, que, doravante, a morte e o pecado forma derrotados e ele vive.

            A celebração da Páscoa de Jesus compreende três dias, como que em três atos. Esses três dias são chamados de TRÍDUO PASCAL. São contados segundo o costume judaico, segundo o qual o dia começa por volta das 18h do dia anterior. Eles transcorrem entre a celebração da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa, após as 18h), sua Paixão e Morte de Cruz (Sexta-feira da Paixão), sua descida à mansão dos mortos (Sábado Santo) e sua Ressurreição (Domingo da Ressurreição), celebrada desde a meia-noite do sábado. Os cristãos têm, assim, a oportunidade de celebrar os mistérios de sua salvação e reviver o drama próprio do sofrimento humano, que só o pecado e a injustiça podem causar. Quem jamais não sofreu alguma injustiça, uma traição, desamor? Quem não lutou contra si mesmo para evitar cometer o mal contra alguém ou se o fez não sentiu remorsos com isso? Contudo, após a ressurreição de Jesus mesmo os sofrimentos da injustiça não têm o mesmo efeito. A morte e o pecado já foram vencidos espiritualmente. Doravante, somos convidados a resistir às insídias do mal com o coração apegado em Deus. Revivemos em Cristo, pela graça do Espírito Santo, os mesmos sentimentos de Jesus, sua esperança e sua resignação no reto caminho, motivados pela obediência da fé, ou seja, pelo testemunho do Pai a confirmar seus filhos em sua promessa. Nada foi em vão na vida de Jesus. Por isso, ele é causa de soerguimento e grande alegria. Doravante, ele tem a capacidade de reunir a todos como membros de uma mesma família.

            Que este tempo pascal seja motivo de muitas graças para quantos a celebram com o coração cheio de fé, esperança e caridade. Esse é o tempo favorável, esse é o dia da salvação (cf. Is 49,8; II Cor 6,2).

                                                                                                  Dom João Evangelista Kovas      

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