quinta-feira, 4 de abril de 2013

Comentário à Carta 70 (Capítulo 4 de 5)

 Maria Vanda (Ir. Maria Silvia –Oblata OSB/SP) .

                                                     A  Oração do Senhor
                                                           Pai Nosso!
                                                         

                     CAPÍTULO IV - SOBRE A CARTA 70 AOS BISPOS

                      Caros leitores, retomando a nossa apreciação sobre a CARTA 70, agora nesse IV Capítulo, trataremos da oração do Pai Nosso, (essa oração universal, assim podemos dizer). Ela fora proferida pelo próprio Jesus, ensinando os seus irmãos, (senão ao seu rebanho), a se dirigirem ao Pai, através de uma imprescindível oração, que já inseria o cristão na revelação do mistério trinitário. O Pai envia o seu Filho, (Jesus), que se encarna para possibilitar a reconciliação humana com o Pai; ao tempo que o Filho vive e sofre entre nós e por nós, (cumprindo, em tudo a vontade do Pai), para Ele depois regressa, (após todo o sofrimento na sua paixão), pela ressurreição. Todo esse movimento se dá por ação do Espírito Santo, que unido ao Pai e ao Filho, mergulha o cristão nesses santíssimos mistérios da encarnação, da salvação e da SS. Trindade.

                     Como diz o Catecismo da Igreja Católica é o Pai Nosso a oração dominical. E por isso a oração da Igreja, por excelência  e resumo de todo o Evangelho e é pois o centro das Escrituras.

                      Santo Agostinho diz: Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluída na oração do Senhor. (In CIC n.2762).  

                     A Oração do Pai Nosso, no Evangelho de Matheus, ( 6, 9), segue-se ao célebre Sermão da Montanha ou das Bem Aventuranças que se encontra no Título III, Capítulo 5. Isto tem muita importância, (do ponto de vista exegético), pois a oração do Pai Nosso se encontra nesse mesmo Título III, onde se encontram as Bem Aventuranças, sendo possível dizer que o espírito da proclamação feita por Jesus era o mesmo: afirmar aos homens que suas palavras eram a Verdade, (porque provinham de quem lhe enviou). E com isso, desejava ensinar aos seus irmãos, o que já sabia, por revelação do Pai. O homem deve orar e como lhe é propício fazê-lo (MT 6, 5-8).

                     E então, Jesus ensina-nos a orar dizendo: PAI NOSSO...

                    (Diz-o o Abba Isaac, relatada Por João Cassiano – In Instituições, IX, pg. 59 e seguintes), que para rezar a oração do Pai Nosso, a alma deve estar num estado ainda mais sublime e de transcendência mais elevada, estado este consistente na contemplação única de Deus. E, que orando no ardor da caridade, a alma se funde, dilatada pelo amor divino, e em estado de grande piedade, entra em colóquio com familiar com o Pai. E diz ainda que, a fórmula desta oração não nos deixa dúvidas de que para nós, constitui-se um dever buscar com empenho esse estado de oração.

                     E Jesus não profere Pai Meu. Indicando-nos que a oração é universal e que o Pai, o enviou para todos. E com isso passamos da condição de servos de Deus para a condição de filhos.

                     QUE ESTAIS NOS CÉUS...

                     Reconhecemos que habitamos em terra que ainda não é a do Pai. Somos filhos adotivos desejando a pátria celeste.

                      SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME...

                      Testemunhamos que há Glória no Pai, pois confiamos nas palavras do Filho, que por primeiro o glorificou em tudo.

                     VENHA A NÓS O VOSSO REINO...

                     Rogamos, piedosos, que já remidos do pecado original, seja-nos possível almejar com mais ardor, (pela entrega de cruz, pelo Filho, que inaugura o reino prometido: vinde benditos do meu Pai, recebei a herança do reino preparada para vós, desde a criação do mundo – MT 25,34) que se instale o reino eterno, onde as nossas almas possam fixar suas moradas

                   SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRRA COMO NO CÉU

                   Reconhecemos que a vontade de Deus é suprema. E que a nossa vontade está submetida à vontade do Dele, quer na terra, quer no céu. Mas nosso Salvador, (como diz S. Paulo, em 1Tm, 24), quer que todos nós sejamos salvos e cheguemos ao conhecimento da Verdade. Devemos em oração desejar a salvação eterna e com esse intuito rogar.

                  O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAÍ HOJE...

                  Elevamos a mão do coração para pedir e estendemos a mão da alma para receber o alimento mais substancioso, aquele que se eleva acima de qualquer outra substância para sustentar o corpo e o espírito. Mas também nessa súplica outro elemento se avulta, a necessidade perene, quotidiana, de nos alimentarmos com o pão de Deus, pois sem ele perecemos também no espírito. Disse Jesus no Jardim das Oliveiras (getsêmani): o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mc 14,38). Então o espírito precisa estar vigilante e alimentado para esperar o que há de vir.

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS  A QUEM NOS TEM OFENDIDO
                  Segundo o Abba Isaac, Jesus não apenas nos oferece um modelo de oração, mas nos indica uma regra pela qual podemos ser agradáveis ao Pai. Ressalta que a oração constante (de que já falamos antes), tem o poder de nos arrancar das garras da irascibilidade e da tristeza. E, para além disso, a oração do Pai Nosso, nesse tópico, nos propicia um caminho que deságüe numa indulgência e compassividade Divinas que nos possibilita a atribuição, a nós mesmos, de uma sentença mais suave e justa; pois segundo esse mesmo juízo devemos perdoar a quem nos ofendera. Ou seja, para que sejamos perdoados pelas nossas ofensas, o parâmetro que estabelecemos para sermos perdoados é aquele que utilizamos mesmo para perdoar os nossos ofensores. Está aí o poder que nos é dado de suavizarmos a própria sentença. Eis a regra.

                    NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

                  A súplica, aí, leva-nos mais a rogar que não permita Deus que sejamos vencidos pela tentação. Porque tentados somos nós, a todo momento, assim como o foram Jó, Abraão, o próprio José. Mas não foram vencidos pela tentação, (não cederam ao tentador). E, por isso foram justificados aos olhos de Deus.

                  MAS LIVRAI-NOS DO MAL, AMÉM

                  A expressão: mas livrai-nos do mal equivale a dizer não seja permitido sejamos tentados além das nossas forças. E quando tentados, sejamos capazes de repeli-lo (o mal) com eficiência e suficiência.

                  Seguindo a linha de pensamento do Abba Isaac, e mesmo as suas palavras, (obra já citada), temos ainda a frisar que: A oração do Pai Nosso traz o parâmetro (medida), que o seu Formulador indica para que nos sejam abrandadas e perdoadas nossas faltas. Não se percebe nela nenhum pedido de bem que seja perecível, efêmero ou torpe. Tratam-se de bens eternos, e que por isso mesmo, seria injurioso ao Senhor, (ante a sua magnificência e munificência), nos quedarmos em pedidos de bens contingentes e transitórios. Diz o Abba, que se assim for, ao invés de colher o beneplácito divino, colheríamos a sua cólera.

                   Então o que percebemos é que a oração do Pai Nosso, não é apenas uma simples oração, mas  é um legado dos nosso Senhor Jesus Cristo aos seus irmãos. E, por isso a oração mais sublime, mais plena, mais perfeita, (no dizer do Abba Isaac, aqui sintetizada a idéia), capaz de elevar às maiores alturas aqueles que se habituarem e se aplicarem em rezá-la. Ela transcende todo o sentimento humano e não se distingue por nenhum som da voz, movimento da língua ou pela articulação de palavras ou gestos. A alma, iluminada pela infusão da luz divina, não se expressa mais pela linguagem humana (que é imperfeita), derrama sua inefável oração, elevando-a até Deus, experimentando um estado de compunção inexprimível, que saído dele o orante não o pode expressar e nem renová-lo segundo sua vontade.

                 Assim, caro leitor, para não sairmos do tema do texto que é a Oração do Pai Nosso e nem do contexto do que trata a Carta 70, encerramos aqui esse capítulo, prometendo voltar brevemente, com o mais um capítulo do comentário ao Documento da Igreja - Carta 70 aos Bispos da Igreja Católica Apostólica Romana.

                Até breve.
                Maria Vanda (Ir. Maria Silvia –Oblata OSB/SP) .



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