sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O santo que não tinha tempo para morrer

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
*Artigo de A. Torres Neiva

Era um monge e todos diziam que era um santo. Sempre bem humorado e sempre ocupado, todos invejavam a vida longa e feliz que sempre tivera. Um belo dia, veio visitá-lo um anjo do Senhor e encontrou-o na cozinha a lavar as panelas.  

- ‘Deus enviou-me, disse o anjo, para te levar para a vida eterna; chegou a tua hora’.

O nosso santo perdeu o seu  bom humor e logo viu que aquele não era o melhor momento para abandonar o seu trabalho e respondeu com toda a franqueza :

- ‘Agradeço ao Todo-poderoso a sua bondade por me ter convidado tão cedo para a sua glória, mas não posso deixar as panelas por esfregar. Todos diriam que morri só para não esfregar as panelas. Não podíeis transferir a minha viagem para mais tarde?'

O anjo olhou para aquele monte de panelas que esperavam ainda o esfregão do nosso santo e condescendeu :

- ‘Vamos ver o que se pode arranjar’. E voltou para a glória sem levar o nosso homem.

E o santo pode continuar em paz a sua tarefa para a qual não existiam muitos voluntários em todos os conventos da Ordem.

Um dia em que ele andava a revolver as couves no quintal, pois aqueles pedregulhos do quintal ainda eram mais difíceis de esfregar que as panelas da cozinha, o mensageiro de Deus voltou a aparecer-lhe. Não era de propósito mas o anjo de Deus aparecia sempre na pior altura.

O nosso homem apontou, de enxada em riste, toda aquela porção de terra que esperava a caridade de sua enxada e o anjo que decidisse.

E o anjo sorridente, decidiu mais uma vez transferir a chamada, pelo menos enquanto houvesse horta para cavar.

Os dias foram passando e o que fazer não faltava ao nosso santo. Era costume seu, nos intervalos em que não havia panelas para esfregar e o trigo crescia no campo, fazer uma visitinha aos doentes do hospital. Vinha ele com um copo na mão para leva-lo a um doente com muita febre, quando viu novamente o anjo do Senhor.

Desta vez o santo nem esteve com explicações. O anjo que desse uma vista de olhos pela enfermaria e logo veria que aquele momento não era o melhor para abandonar toda aquela gente.

E sem dizer palavra, o anjo do Senhor desapareceu.

Mas naquela noite, ao voltar para o mosteiro, o nosso homem sentiu-se velho e cansado e sem vontade para limpar as panelas, nem para cavar a horta nem para visitar os doentes. Entrou na capela e rezou :

- ‘Senhor, se quiseres mandar-me agora o teu mensageiro, estou disposto a recebe-lo. Já não sirvo para nada’.

E foi então que o próprio Senhor lhe falou :

- ‘Faz-me um pouquinho de companhia. Há tanto tempo espero que tenhas um momento livre para estares comigo’.


Fonte : 
* Artigo adaptado de Vida Consagrada, 214 – Junho 1999, do Padre Adélio Torres Neiva, C. S. Sp. (missionário espiritano (+2010)).

Revista Beneditina nrº 4, Maio/Junho de 2004, editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais.

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