sexta-feira, 30 de maio de 2014

Visitação de Nossa Senhora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia da Visitação de Nossa Senhora :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Homilias de São Beda, o Venerável, presbítero
(Lib. 1,4: CCL 122,25-26.30)      (Séc. VIII)

Maria engrandece o Senhor que age nela
Minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46). Com estas palavras, Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons que lhe foram especialmente concedidos; em seguida, enumera os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o gênero humano.

Engrandece o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e ao serviço de Deus; e, pela observância dos mandamentos, revela pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna.

Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a mais plena ressonância ao serem proferidas pela santa Mãe de Deus. Ela, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual aquele cuja concepção corporal em seu seio era a causa de sua alegria.

Com toda razão pôde ela exultar em Jesus, seu Salvador, com júbilo singular, mais do que todos os outros santos, porque sabia que o autor da salvação eterna havia de nascer de sua carne por um nascimento temporal; e sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.

O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49). Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis, pequenos e fracos, em fortes e grandes.

Logo acrescentou : E santo é o seu nome! Exorta assim os que a ouviam, ou melhor, ensinava a todos os que viessem a conhecer suas palavras, que pela fé em Deus e pela invocação do seu nome também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação. É o que diz o Profeta : Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo (Jl 3,5). É precisamente este o nome a que Maria se refere ao dizer : Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.

Por isso, se introduziu na liturgia da santa Igreja o costume belo e salutar, de cantarem todos, diariamente, este hino na salmodia vespertina. Assim, que o espírito dos fiéis, recordando frequentemente o mistério da encarnação do Senhor, se entregue com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirme na verdadeira santidade. E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora das Vésperas, para que nossa mente fatigada e distraída ao longo do dia por pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo do repouso.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1601, 1602


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Razões da Esperança

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
  
As cenas de violência, que acompanham as manifestações de protesto das mais diversas bandeiras, multiplicam-se por toda parte. Ao mesmo tempo, a humanidade fica chocada com acidentes de toda ordem, desastres naturais, a grande chaga da guerra e o desentendimento entre pessoas, grupos e culturas. Aquela que uma vez foi chamada de aldeia global se mostra diariamente em nossas casas. Há inclusive meios de comunicação que se comprazem em mostrar, ao vivo e a cores, a miséria humana, tirada do fundo do baú, aquela que outrora se encontrava escondida na sarjetas da vida ou dissimulada através de mil truques. E o que dizer da exposição das pessoas e seus eventuais deslizes, através das chamadas redes sociais? Para muitos, a tentação que vem à tona é a do desânimo. Pode ser ainda a banalização da vida das pessoas e de sua dignidade. Outros são levados inclusive ao desespero.

 Há um futuro promissor para a humanidade? Será que as previsões relativas ao aquecimento global ou outras projeções pessimistas se realizarão? Bem perto de nós, como serão os próximos meses com os eventos esportivos e políticos que se avizinham? Seremos capazes de nos manter serenos e fiéis? Jesus, conversando com seus discípulos, reunidos no Cenáculo, por ocasião da última Ceia, pronunciou palavras de fogo, garantindo-lhes as forças necessárias para a caminhada neste mundo. Temos certezas que nos permitem ir ao encontro dos outros sem receios, ajudando a todos na descoberta dos sinais de vida e de esperança.

Para os cristãos existe um ponto de referência, projetado pela esperança, uma virtude teologal. Virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade (Cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 384-387), são aquelas que têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas com a graça santificante, tornando-nos capazes de viver em relação com a Trindade, fundamentam e animam o agir, consolidando e vivificando as virtudes humanas. Elas são a garantia da presença e da ação do Espírito Santo em nós. Pela fé, cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Igreja nos propõe para acreditarmos. Pela esperança, desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como nossa felicidade, colocando a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos na ajuda da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até ao fim da vida terrena. A caridade, por sua vez, é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei. A caridade é o vínculo da perfeição (Cf. Cl 3,14) e o fundamento das outras virtudes, que ela anima, inspira e ordena : sem ela ‘não sou nada’ e ‘nada me aproveita’, afirma São Paulo (Cf. 1 Cor 13,1-3).

A vida cristã tem sua origem em Deus, que nos chama a partilhar de sua vida e nos oferece a salvação. Quer dizer que a vida, quando começa no alto, tem sentido e rumo. Há uma meta a alcançar e esta é a felicidade plena na eternidade, com Deus e com os irmãos. De fato, Deus nos fez para chegar a esta realização completa e a maldade ou o pecado não têm a última palavra.

Para manter viva a esperança, é necessário acreditar que Deus tem algo a ver com a humanidade e pode, sim, intervir na história humana e na vida das pessoas. Só Ele pode fazê-lo sem violentar a liberdade, dom com que todos foram criados. Há um percurso a fazer, para que se mantenha viva a certeza de sentido na vida humana nesta terra, tantas vezes ‘vale de lágrimas’, mas destinada a ser lugar de felicidade, ‘um novo céu e uma nova terra, descendo do céu, de junto de Deus, vestida como noiva enfeitada para o seu esposo, a morada de Deus-com-os-homens. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram. Estas coisas serão a herança do vencedor, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho’ (Ap 21, 1.3-6).

O ponto de chegada é muito alto, mas não é complicado caminhar até lá! Basta seguir a receita do Evangelho : Quem ama enxerga e entende o que deve fazer : ‘Quem me ama será amado por meu pai e eu o amarei e me manifestarei a ele’. Não é apenas conversa, pois ‘quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama’ (Jo 14, 15-21). Trata-se de praticar os mandamentos! Depois, quem compromete assim sua liberdade e sai de si para amar a Deus e cumprir os mandamentos, tem a certeza de que o Espírito da Verdade, prometido por Jesus, permanece sempre dentro de si e a seu lado. Sabendo que o Espírito Santo prometido age no mundo e na Igreja, não desfaleceremos no caminho e a esperança permanecerá acesa.

Uma das consequências é o testemunho a ser oferecido diante das pessoas. Mesmo quando aparece o sofrimento, é melhor sofrer praticando o bem, se essa for a vontade de Deus, do que praticando o mal. Cristo morreu, justo pelos injustos, para nos conduzir a Deus, mas recebeu nova vida no Espírito (Cf. 1 Pd 3, 15-18). Quando alguém quer saber os motivos da esperança que está em nossos corações, começamos com o Céu, mostramos o rumo futuro, a meta da esperança, mas também olhamos para a terra, enxergando os sinais de Deus existentes no momento presente, ao identificar o bem que é feito e a bondade que se espalha ao nosso redor. Há muita caridade vivida, há muitos gestos gratuitos e generosos, assim como tanta doação de vida. Há pessoas acendendo sinais verdes de esperança, ao invés de se armar com o amarelo do semáforo do medo ou interromper a caminhada com o vermelho que interrompe o trânsito da vida. Que nossa vida corresponda à fé, esperança e caridade que nos foram dadas de presente.’


Fonte   :
* Artigo na íntegra de https://dioceseourinhos.wordpress.com/2014/05/26/razoes-da-esperanca/



quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Cântaro Furado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
* Artigo de Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
  
‘Eram mais de 70 as missionárias e missionários que participaram na semana de exercícios espirituais em Leiria. Já o número foi uma agradável surpresa. Depois fez-me pensar também o facto de estarmos ali pessoas leigas, irmãs, sacerdotes, gente com uma grande variedade de experiências de vida... diferenças também no que diz respeito à idade, havia umas dezenas boas de anos entre jovens noviços e missionários já velhinhos. Quanto à diferença de níveis de santidade... Bem, isso só Deus sabe.

O certo é que éramos gente com diferenças notáveis entre uns e outros. Por isso o ambiente de amizade e de confiança recíproca que se criou foi algo de muito bonito, e permitiu-nos ter momentos de oração partilhada com grande abertura de coração e grande intensidade. Tínhamos em comum o nosso ideal comboniano e o desejo profundo de passar uns dias bons em oração à escuta do Senhor e a refrescar o nosso espírito missionário. Os textos do Papa Francisco que lemos e meditamos juntos vieram ajudar-nos a viver a nossa fé com aquela alegria que Deus dá a quem trabalha para sintonizar a vida com o Evangelho e com as irmãs e os irmãos que Deus nos colocou por perto.

Ao fim de cinco dias de retiro, estávamos todos com as baterias bem carregadas.

Além do facto que todos somos simpáticos e gostamos de ser agradecidos pelo bem que fazemos uns aos outros, impressionou-me a expressão que alguém usou para agradecer : «Este retiro foi encomendado para mim.» Outras pessoas em situação bem diferente usaram palavras semelhantes : «Era mesmo disto que eu estava a precisar.» Vínhamos todos de «viagens diferentes» em «desertos diferentes», de onde vinha aquela sintonia? Simples : a fonte onde fomos beber todos, o Evangelho de Jesus e a nossa comum vocação missionária, tinham a «água certa» para cada um que lá se chegava.

O Papa Francisco falou um dia destes do Coração trespassado de Cristo que é, diz ele, como um cântaro furado de todos os lados; cada um pode beber ao buraco que vê mais perto, mas a «água viva» que de lá sai é sempre a mesma e é capaz de saciar sempre a nossa sede, seja ela qual for.

Lembro uma experiência muito semelhante quando há muitos anos cheguei à minha missão na África : a primeira vez que num domingo fui celebrar a Santa Missa com a parte do «rebanho» que me era confiado, celebrei e rezei com aquela gente e senti-me como se fôssemos família já há muito tempo; sentia-se uma unidade entre nós que era difícil de explicar. Ao olhar para trás agora, algo me sugere que se trata sempre do mesmo mistério : não é eliminando as nossas diferenças que realizamos a unidade, o que é preciso é caminhar juntos bebendo todos na mesma fonte.’


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFAAFlkAAEPfQgvLuG


As 3 religiões

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



* Artigo de Edson Sampel

‘A gente tem a tendência a pensar que existem milhares de religiões no mundo, sendo o cristianismo, o judaísmo e o islamismo apenas 3 entre tantas. Será verdade? Reflitamos um pouco.
  
Tomemos como exemplo o Brasil, uma nação de proporções continentais. Em nosso país, 98 por cento dos habitantes professam a religião cristã, quer no catolicismo, quer nas inúmeras denominações evangélicas. Ninguém negaria tal afirmativa, não é mesmo? E os outros compatriotas? Bem, uma minoria se reparte entre o espiritismo e as religiões animistas de matriz africana (umbanda, candomblé, quimbanda etc.) e outros grupos. Por ora, deixemos de lado os judeus, os muçulmanos e os budistas que, no Brasil, correspondem a uma pequeníssima parcela.

Pensemos, agora, em outro exemplo paradigmático : os Estados Unidos. Naquele país gigantesco, a maioria do povo igualmente pratica a religião cristã, também através do catolicismo e das comunidades evangélicas. É claro que em solo americano há mais judeus, muçulmanos e budistas que no Brasil.

Poderíamos, também, mostrar realidades similares na Europa. Por outro lado, na China, potência que possui mais de 1 bilhão de habitantes, boa parte da população está vinculada ao confucionismo. No Japão, muitos se dedicam ao budismo.

Não vamos falar de todos os continentes. O importante é perceber o óbvio: existem apenas 3 grandes religiões no planeta Terra : o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. As outras “práticas religiosas”, digamos assim, não estão infensas à influência de uma dessas 3 religiões. Por exemplo, no Brasil, os espíritas gostam de afirmar que o espiritismo não é religião e, por conseguinte, se consideram cristãos. Os seguidores do candomblé e da umbanda – pouquíssimos – igualmente incorporaram símbolos cristãos aos seus cultos e liturgias.

O budismo, o confucionismo e o hinduísmo, exemplificativamente, constituem “manifestações religiosas” e existenciais bem elásticas, abertas. No budismo, não se fala de Deus propriamente. Vale dizer : qualquer indivíduo integrante de um desses grupos se converteria facilmente ao cristianismo ou ao islamismo, sem perder a cultura de raiz. Não coloco aqui o judaísmo, porque esta religião não possui uma visão proselitista. Nasce-se judeu!

Por que será que o governo comunista da China impede que padres e pastores ingressem em seu território para a pregação do evangelho, cominando penas pesadíssimas aos infratores? Ora, simplesmente porque os chineses facilmente se converteriam ao cristianismo, uma vez que a esmagadora maioria nem sequer tem uma religião. Esta mudança qualitativa não interessa a nenhuma política totalitária.

Moral da história. O cristianismo, o judaísmo e o islamismo são, de fato, as verdadeiras religiões. E são parentes! São João Paulo II dizia que os judeus são irmãos mais velhos dos cristãos. Os maometanos, primos surgidos no século VI da era cristã, portam elementos do cristianismo e veneram Maria santíssima.

O cristianismo, mormente na sua historicidade presente na Igreja católica há 2 mil anos, representa o cumprimento das promessas confiadas ao judaísmo. Malgrado, ao longo da história, tenha ocorrido uma hedionda animosidade entre os crentes das 3 religiões monoteístas, sobretudo com os fiéis do Islã, não se deve negar que o cristianismo, o judaísmo e o islamismo captaram a essência divina e são religiões no sentido próprio, porquanto propiciam o religar (sentido da palavra 'religião') do ser humano com Deus. Tal asserção é facilmente comprovada pelo chamado sensus fidei (percepção do crente), uma vez que considerável proporção dos 7 bilhões de habitantes da Terra, de alguma forma, se encontra ligada a uma dessas 3 religiões.’


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/as-3-religioes

  

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Santo Agostinho de Cantuária, Bispo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Era do mosteiro de Santo André, em Roma, quando foi enviado por São Gregório Magno, em 597, à Inglaterra, para pregar o evangelho. Foi bem recebido e ajudado pelo rei Etelberto. Eleito bispo de Cantuária, converteu muitos à fé cristã e fundou várias Igrejas, principalmente no reino de Kent. Morreu a 26 de maio, cerca do ano 605.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de 
Santo Agostinho de Cantuária, Bispo :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Cartas de São Gregório Magno, papa
(Lib. 9,36: MGH, 1899, Epistolae, 2, 305-306)      (Séc. VI)

A nação dos anglos foi iluminada pela luz da santa fé
Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados (Lc 2,14), porque Cristo, o grão de trigo, caiu na terra e morreu para não reinar sozinho no céu. Por sua morte nós vivemos, por sua fraqueza nos fortalecemos, por sua paixão nos libertamos da nossa. Por seu amor, procuramos na Grã-Bretanha irmãos que desconhecíamos; por sua bondade, encontramos aqueles que procurávamos sem conhecer.

Quem será capaz de expressar a enorme alegria que encheu o coração de todos os fiéis, pelo fato de a nação dos anglos, repelindo as trevas do erro, ter sido iluminada pela luz da santa fé? É à ação da graça de Deus todo-poderoso e ao teu ministério, irmão, que devemos isto. Agora com grande fidelidade de espírito calcam aos pés os ídolos que antes adoravam com insensato temor; com pureza de coração, já se prosternam diante de Deus todo-poderoso; obedecendo às normas da santa pregação, abandonam as obras do pecado e aceitam de boa mente os mandamentos de Deus para chegarem a compreende-lo melhor; inclinam-se profundamente em oração para que o espírito não fique preso à terra. De quem é esta obra? É daquele que disse : Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho (Jo 5,17).

Cristo, para mostrar que o mundo não se converte com a sabedoria dos homens mas com o seu poder, escolheu como seus pregadores, para enviar ao mundo, homens iletrados. O mesmo fez também agora com a nação dos anglos, pois se dignou realizar prodígios por meio de fracos instrumentos. Mas nesta graça celestial, irmão caríssimo, há muito para nos alegrarmos e também muito para temermos.

Bem sei que o Deus todo-poderoso realizou grandes milagres por meio do teu amor para com esse povo que ele quis escolher. Mas esta graça do céu deve ser para ti causa de alegria e de temor. De alegria, sem dúvida, por veres como as almas dos anglos são conduzidas, por meio dos milagres exteriores até à graça interior; e de temor para que à vista dos milagres que se realizam, tua fraqueza não se exalte até à presunção, e enquanto exteriormente és honrado, não caias interiormente na vanglória.

Devemos lembrar-nos de que os discípulos, ao voltarem da pregação cheios de alegria, quando disseram ao divino mestre : Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do teu nome (Lc 10,17), ouviram como resposta : Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu (Lc 10,2)).


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1596, 1597



São Filipe Néri, Presbítero

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Nasceu em Florença (Itália), em 1515. Indo para Roma, aí começou a dedicar-se ao apostolado da juventude, e estabeleceu uma associação em favor dos doentes pobres, levando uma vida de grande perfeição cristã. Foi ordenado presbítero em 1551 e fundou o Oratório que tinha por finalidade dedicar-se à instrução espiritual, ao canto e às obras de caridade. Notabilizou-se sobretudo por seu amor ao próximo, pela sua simplicidade evangélica e pela sua alegria no serviço de Deus. Morreu em 1595.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Filipe Néri, Presbítero :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 171,1-3.5:PL38,933-935)      (Séc. V)

Alegrai-vos sempre no Senhor
O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura : A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.

Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.

No entanto, pode alguém observar : “Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou”. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador : Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).

Eis uma realidade admirável : aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão aquele que por misericórdia se tornou tão próximo de nós?

Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.

Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para si com seu sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.

Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniqüidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1593, 1595


domingo, 25 de maio de 2014

Santa Maria Madalena de Pazzi, Virgem

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Nasceu em Florença (Itália), no ano de 1566. Teve uma piedosa educação e entrou na Ordem das Carmelitas; levou uma vida de oração e abnegação, rezando assiduamente pela reforma da Igreja e dirigindo suas irmãs religiosas no caminho da perfeição. Recebeu de Deus muitos dons extraordinários. Morreu em 1607.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de 
Santa Maria Madalena de Pazzi, Virgem :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Escritos sobre a Revelação e a Provação,
de Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem
(Mss. III, 186.264; IV, 716: Opere di S. M. Madalena de Pazzi,
Firenze, 1965, 4, pp. 200.269; 6.p. 194)      (Séc. XVI)

Vem, Espírito Santo
Verdadeiramente és admirável, ó Verbo de Deus, no Espírito Santo, fazendo com que ele se infunda de tal modo na alma, que ela se uma a Deus, conheça a Deus, e em nada se alegre fora de Deus.

O Espírito Santo vem à alma, marcando-a com o precioso selo do sangue do Vergo, ou seja, do Cordeiro imolado. Mais ainda, é esse mesmo sangue que o incita a vir, embora o próprio Espírito já por si tenha esse desejo.

O Espírito que assim deseja é em si a substância do Pai e do Verbo; procede da essência do Pai e da vontade do Verbo; vem como fonte que se difunde na alma, e a alma nele mergulha toda. Assim como dois rios, confluindo, de tal modo se misturam que o menor perde o nome e recebe o do maior, do mesmo modo age este Espírito divino, quando vem à alma, para com ela se unir. É preciso, pois, que a alma por ser menor, perca seu nome e o ceda ao Espírito Santo; e deve fazer isto transformando-se de tal maneira no Espírito que se torne com ele uma só coisa.

Este Espírito, porém, distribuidor dos tesouros que estão no coração do Pai e guarda dos segredos entre o Pai e o Filho, derrama-se com tanta suavidade na alma, que não se percebe sua chegada e, pela sua grandeza, poucos o apreciam.

Por sua densidade e sua leveza, entra em todos os lugares que estão aptos e preparados para recebe-lo. Na sua palavra frequente, como também no seu profundo silencio, é ouvido por todos; com o ímpeto do amor, ele, imóvel e mobilíssimo, penetra em todos os corações.

Não ficas, Espírito Santo, no Pai, imóvel, nem no Verbo; contudo, sempre estás no Pai e no Verbo e em ti mesmo, e também em todos os espíritos e criaturas bem-aventuradas. Estás ligado à criatura por estreitos laços de parentesco, por causa do sangue derramado pelo Verbo unigênito que, pela veemência do amor, se fez irmão de sua criatura. Repousas nas criaturas que se predispõem com pureza a receber em si, pela comunicação de teus dons, a tua própria presença. Repousas nas almas que acolhem em si os efeitos do sangue do Verbo e se tornam habitação digna de ti.

Vem, Espírito Santo. Venha a unidade do Pai e do bem-querer do Verbo. Tu, Espírito da Verdade, és o prêmio dos santos, o refrigério dos corações, a luz das trevas, a riqueza dos pobres, o tesouro dos que amam, a saciedade dos famintos, o alívio dos peregrinos; tu és, enfim, aquele que contém em si todos os tesouros.

Vem, tu que, descendo em Maria, realizaste a encarnação do Verbo, e realiza em nós, pela graça, o que nela realizaste pela graça e pela natureza.

Vem, tu que és o alimento de todo pensamento casto, a fonte de toda clemência, a plenitude de toda pureza.

Vem e transforma tudo o que em nós é obstáculo para sermos plenamente transformados em ti.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1591, 1593


São Gregório VII, Papa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Hildebrando nasceu na Toscana (Itália), cerca do ano 1028; foi educado em Roma e abraçou a vida monástica. Por diversas vezes foi legado dos papas de seu tempo para auxiliar na reforma da Igreja. Em 1073, eleito para a cátedra de São Pedro, com o nome de Gregório VII, continuou corajosamente a reforma começada. Muito combatido, principalmente pelo rei Henrique IV, foi desterrado para Salerno, onde morreu, em 1085.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Gregório VII, Papa :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Cartas de São Gregório VII, papa
(Ep. 64 extra Registrum: PL 148, 709-710)      (Séc. XI)

A Igreja livre, casta, católica
Em nome do Senhor Jesus, que nos remiu com sua morte, nós vos pedimos e suplicamos que procureis diligentemente informar-vos acerca do motivo e do modo como sofremos tribulações e angústias da parte dos inimigos da religião cristã.

Desde que, por disposição divina, a Mãe Igreja me colocou no trono apostólico, apesar de sentir-me indigno e contra a minha vontade – Deus é testemunha! – procurei com o máximo empenho que a santa Igreja, esposa de Deus, senhora e mãe nossa, voltando à primitiva beleza que lhe é própria, permanecesse livre, casta e católica. Mas como isso desagrada muitíssimo ao antigo inimigo, este armou seus sequazes contra nós, para que tudo sucedesse ao contrário. Por isto, fez ele tanto mal contra nós, ou antes, contra a Sé Apostólica, como ainda não pudera faze-lo, desde os tempos do imperador Constantino Magno. Nem é de admirar muito, porque, quanto mais o tempo passa, tanto mais ele se esforça para extinguir a religião cristã.

Agora, pois, meus caríssimos irmãos, ouvi com muita atenção o que vos digo. Todos os que no mundo inteiro têm o nome de cristãos e conhecem verdadeiramente a fé cristã, sabem e crêem que São Pedro, o príncipe dos apóstolos, é o pai de todos os cristãos e o primeiro pastor, depois de Cristo, e que a santa Igreja Romana é a mãe e mestra de todas as Igrejas.

Se, portanto, acreditais nestas coisas e as afirmais sem hesitação, eu, vosso humilde irmão e indigno mestre, rogo-vos e recomendo-vos pelo amor de Deus onipotente, que ajudeis e socorrais este vosso pai e esta vossa mãe, se desejais alcançar por seu intermédio a absolvição de todos os pecados, a benção e a graça, neste mundo e no outro.

Deus onipotente, de quem procedem todos os bens, sempre ilumine a vossa alma e a fecunde com o seu amor e o amor do próximo. Assim, pela vossa constante dedicação, mereceis a recompensa de São Pedro, vosso pai na fé, e da Igreja, vossa mãe, e chegareis sem temor à sua companhia. Amém


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1589, 1590


sábado, 24 de maio de 2014

São Beda, o Venerável, Presbítero e Doutor da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Nasceu no território do mosteiro beneditino de Wearmouth (Inglaterra), em 673; foi educado por São Bento Biscop e ingressou no referido mosteiro, onde recebeu a ordenação de presbítero. Desempenhou o seu ministério dedicando-se ao ensino e à atividade literária. Escreveu obras de cunho teológico e histórico, seguindo a tradição dos Santos Padres e explicando a Sagrada Escritura. Morreu em 735.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Beda, o Venerável,
Presbítero e Doutor da Igreja :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Da Carta de Cutberto sobre a morte de São Beda, o Venerável
(Nn. 4-6 : PL 90, 64-66)      (Séc.VIII)

Desejo de ver a Cristo
Ao chegar a terça-feira antes da Ascensão o Senhor, Beda começou a respirar com mais dificuldade e apareceu um pequeno tumor em seu pé. Mas, durante todo aquele dia, ensinou e ditou as suas lições com boa disposição. A certa altura, entre outras coisas, disse : ‘Aprendei depressa; não sei por quanto tempo ainda viverei e se dentro em breve o meu Criador virá me buscar’. Parecia-nos que ele sabia perfeitamente quando iria morrer; tanto assim que passou a noite acordado e em ação e graças.

Raiando a manhã, isto é, na quarta-feira, ordenou que escrevêssemos com diligencia lição começada; assim fizemos até às nove horas A partir desta hora, fizemos a procissão com as relíquias dos santos, como mandava o costume do dia. Um de nós, porém, ficou com ele, e disse-lhe : ‘Querido mestre, ainda falta um capítulo do livro que estavas ditando;  Seria difícil pedir-te para continuar?’ Ele respondeu : ‘Não, não custa nada; toma a tua pena e tinta, e escreve sem demora’. E assim fez o discípulo.

Às três horas da tarde, disse-me : ‘Tenho em meu pequeno baú algumas coisas de estimação : pimenta, lenços e incenso. Vai depressa chamar os presbíteros do nosso mosteiro para que distribua entre eles os presentinhos que Deus me deu’’. Quando todos chegaram, falou-lhes, exortando a cada um e pedindo-lhes que celebrassem missas por ele e rezassem por sua alma; o que lhe prometeram de boa vontade.

Todos choravam e lamentavam, principalmente por lhe ouvirem manifestar a persuasão de que não veriam mais por muito tempo o seu rosto neste mundo. No entanto, alegraram-se quando lhes disse : ‘Chegou o tempo, se assim aprouver a meu Criador, de voltar para aquele que me deu a vida, me criou e me formou do nada quando eu não existia. Vivi muito tempo, e o misericordioso Juiz teve especial cuidado com a minha vida. Aproxima-se o momento de minha partida (2Tm 4,6), pois tenho o desejo de partir para estar com Cristo (Fl 1,23). Na verdade, minha alma deseja ver a Cristo, meu rei, na sua glória’’. E disse muitas outras coisas, para nossa edificação, conservando a sua alegria de sempre até à noitinha.

O jovem Wilberto, já mencionado, disse : ‘Querido mestre, ainda me falta escrever uma só frase’. Respondeu ele : ‘Escreve depressa ’. Pouco depois disse o jovem : ‘Agora a frase está terminada ’.  ‘Disseste bem, - continuou Beda – tudo está consumado (Jo 19,30). Agora, segura-me a cabeça com tuas mãos, porque me dá muita alegria sentar-me voltado para o lugar santo, onde costumava rezar; assim também agora, sentado, quero invocar meu Pai’.

E colocado no chão de sua cela, cantou : ‘Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo’.  Ao dizer o nome do Espírito Santo, exalou o último suspiro. Pela grande devoção com que se consagrou aos louvores de Deus na terra, bem devemos crer que partiu para a felicidade das alegrias do céu.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1587, 1588