quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A não-violência criativa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  *Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
  
As guerras, na maior parte dos casos, acontecem com o apoio, pelo menos tácito, da opinião pública.


‘Como missionário, nunca tive de trabalhar em países em conflito. Mas, como repórter, tive a oportunidade de visitar pelo menos o Norte do Uganda, onde na época era perigoso viajar devido aos perigos de emboscadas do chamado Exército de Libertação do Senhor (LRA). Encontrei, fotografei e entrevistei jovens que tinham sido obrigados a matar os pais e colegas desertores e a quem depois tinham sido cortados as orelhas, os lábios ou outros membros como punição pelas suas tentativas de fuga. Nesses jovens mutilados vi de perto o horror da guerra.

Não é complicado entender como os que beneficiam de uma forma ou de outra do complexo militar-industrial – manipulado por ideólogos e estrategistas frios, e pela cega sede de atingir objectivos e obter lucros a qualquer preço de nações e empresas, muitas vezes subcontratadas pelos governos – defendam e promovam a guerra. Mas já me é mais difícil perceber como os cidadãos pacíficos e sem ‘interesses’ directos nos conflitos, e pelo menos com uma vaga ideia dos horrores por eles causados, os possam defender e justificar no conforto dos seus sofás – naturalmente, para que envolvam outros e longe! Quando a maior parte das vítimas das guerras modernas são civis indefesos em tudo iguais a eles.

A guerra nunca é uma solução. Em vez de resolver as desavenças e injustiças porventura existentes, semeia a morte e a destruição e cria novos problemas às comunidades. As intervenções militares no Afeganistão, no Iraque e na Líbia, só para citar as mais recentes, são exemplos da total falha do uso da força bruta. A violência não é remédio para um mal, existente ou percebido como tal; pelo contrário, suscita mais e maiores males, ao gerar uma espiral de ressentimento e retaliação que se reflecte no presente e ensombra o futuro.

As guerras, na maior parte dos casos, acontecem com o apoio, pelo menos tácito, da opinião pública. A decisão do presidente Obama de bombardear as posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque só foi tomada, o que se torna claro após a leitura das sondagens, depois da decapitação do jornalista James Foley. O presidente russo, Putin, na sua agressividade ‘restauracionista’ e imperial, conta com o apoio dos seus concidadãos. Israel continua a cantar de galo no Médio Oriente devido ao grande apoio econômico e militar norte-americano, condicionado pela influência do lóbi judaico nos EUA. No dia em que este terminar, não terá alternativa senão apostar nas soluções políticas e diplomáticas.


A violência é incompatível com o Cristianismo. Jesus pede-nos que amemos os inimigos, enquanto o intento de qualquer guerra é aniquilá-los. No famoso Sermão da Montanha, Ele proclamou bem-aventurados os mansos e os pacificadores (Mateus 5,5.9), certamente uma das suas mensagens mais difíceis de aceitar. Porque, como me disse um grande ativista americano que entrevistei recentemente, o Padre John Dear (www.johndear.org), ‘todos estamos viciados na violência’.

Achamos que as coisas vão ao lugar por meio do uso da força, e retaliar é uma tentação demasiado grande quando os meios estão ao nosso alcance. O único caminho moral e cristão é, porém, reconhecer os nossos preconceitos, enfrentar os nossos medos e sentimentos negativos (como o da ira), perdoar as ofensas, ensaiar formas criativas de resposta à violência que possamos ter sofrido ou estar a sofrer – o contrário da resignação – e procurar ser amáveis para conosco, os outros e a Criação.’


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http ://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukpuZFEVyvkmHdJrx


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