sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Vocação com paixão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre Manuel João P. Correia,
Missionário Comboniano

  
Por decisão do Papa Francisco, 2015 é dedicado à vida consagrada. Para assinalar tal acontecimento especial, o papa escreveu uma carta onde apresenta os grandes objectivos, expectativas e horizontes deste ano.

‘Bom Ano Novo a todos os caminhantes que, abandonando os velhos e gastos caminhos, vão traçando, confiantes, novas sendas em busca dos horizontes da paz e da fraternidade! Também a eles se refere o profeta Isaías, quando afirma : ‘aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças; adquirem asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar’ (Is 40,31).

Ao escolher o tema para o nosso percurso vocacional deste ano, achei que deveríamos ter em conta particularmente que o ano 2015 é dedicado à Vida Consagrada, por decisão do Papa Francisco. Proponho-vos pois reflectirmos durante este ano sobre a vocação de consagração. Tomaremos como pano de fundo o Cântico dos Cânticos e como tema ‘Vocação com Paixão’.

O Ano da Vida Consagrada começou no dia 30 de Novembro de 2014, primeiro Domingo de Advento e início do ano litúrgico, e terminará no dia 2 de Fevereiro de 2016, festa da Apresentação de Jesus no Templo e Dia dos Consagrados. O papa para tal ocasião escreveu uma carta, de irmão para irmãos, sendo ele mesmo um consagrado (jesuíta). Nela apresenta os três grandes objectivos, as cinco suas expectativas para este ano e os cinco horizontes por ele visados. Eis aqui uma breve síntese.


Os três objectivos

1.       Olhar com gratidão o passado

O primeiro objectivo é olhar com gratidão o passado. ‘Neste ano será oportuno que cada família carismática recorde os seus inícios e o seu desenvolvimento histórico, para agradecer a Deus que deste modo ofereceu à Igreja tantos dons que a tornam bela e habilitada para toda a boa obra.’ Pois ‘narrar a própria história é louvar a Deus e agradecer-lhe por todos os seus dons’. Além disso, ‘repassar a própria história é indispensável para manter viva a identidade e também robustecer a unidade da família e o sentido de pertença dos seus membros’. O papa especifica que ‘não se trata de fazer arqueologia nem cultivar inúteis nostalgias, mas de repercorrer o caminho das gerações passadas para nele captar a centelha inspiradora, os ideais, os projectos, os valores que as moveram, a começar dos Fundadores, das Fundadoras e das primeiras comunidades’.

2.      Viver com paixão o presente

Como segundo objectivo, este ano chama-nos a viver com paixão o presente. ‘A lembrança agradecida do passado impele-nos, numa escuta atenta daquilo que o Espírito diz hoje à Igreja, a implementar de maneira cada vez mais profunda os aspectos constitutivos da nossa vida consagrada.’

A pergunta que somos chamados a pôr neste ano – diz o papa – é se e como nos deixamos nós hoje interpelar pelo Evangelho : ‘se este é verdadeiramente o vademecum para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer’. E ainda, se ‘Jesus é verdadeiramente o primeiro e o único amor, como nos propusemos quando professámos os nossos votos’.

Os nossos Fundadores sentiram em si mesmos a compaixão que se apoderava de Jesus quando via as multidões como ovelhas extraviadas sem pastor e, tal como Jesus, ‘se puseram ao serviço da humanidade, à qual eram enviados pelo Espírito servindo-a dos mais diversos modos…’.

O Ano da Vida Consagrada questiona-nos, pois, sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada. E o papa pergunta-nos : ‘Temos a mesma paixão pelo nosso povo, solidarizamo-nos com ele até ao ponto de partilhar as suas alegrias e sofrimentos?’ ‘Viver com paixão o presente significa tornar-se ‘peritos em comunhão’’, e por isso o papa lança-nos este convite : ‘sede mulheres e homens de comunhão, marcai presença com coragem onde há disparidades e tensões, e sede sinal credível da presença do Espírito que infunde nos corações a paixão por todos serem um só (cf. Jo 17, 21). Vivei a mística do encontro’.

3.      Abraçar com esperança o futuro

Abraçar com esperança o futuro é o terceiro objectivo que se pretende neste ano. Não obstante as muitas dificuldades que enfrenta a vida consagrada! ‘É precisamente nestas incertezas que partilhamos com muitos dos nossos contemporâneos, que se actua a nossa esperança, fruto da fé no Senhor da história que continua a repetir-nos : ‘Não terás medo (…), pois Eu estou contigo’ (Jr 1,8), afirma o papa. Esta esperança não se funda sobre números ou sobre as obras, mas sobre Aquele em quem pusemos a nossa confiança (cf. 2 Tm 1, 12) e para quem ‘nada é impossível’ (Lc 1, 37). ‘Esta é a esperança que não desilude e que permitirá à vida consagrada continuar a escrever uma grande história no futuro, para o qual se deve voltar o nosso olhar, cientes de que é para ele que nos impele o Espírito Santo a fim de continuar a fazer, connosco, grandes coisas’. E por isso o papa exclama : ‘Não cedais à tentação dos números e da eficiência, e menos ainda à tentação de confiar nas vossas próprias forças. Com atenta vigilância, perscrutai os horizontes da vossa vida e do momento actual.’


As cinco expectativas

1. Que onde estejam os religiosos haja alegria! ‘Somos chamados a experimentar e mostrar que Deus é capaz de preencher o nosso coração e fazer-nos felizes sem necessidade de procurar noutro lugar a nossa felicidade, que a autêntica fraternidade vivida nas nossas comunidades alimenta a nossa alegria, que a nossa entrega total ao serviço da Igreja, das famílias, dos jovens, dos idosos, dos pobres nos realiza como pessoas e dá plenitude à nossa vida.’ E, por conseguinte, ‘que entre nós não se vejam rostos tristes, pessoas desgostosas e insatisfeitas, porque ‘um seguimento triste é um triste seguimento’’. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atracção. ‘A vida consagrada não cresce, se organizarmos belas campanhas vocacionais, mas se as jovens e os jovens que nos encontram se sentirem atraídos por nós, se nos virem homens e mulheres felizes! (…) É a vossa vida que deve falar, uma vida da qual transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo.’

2. Que ‘desperteis o mundo’! Porque a nota característica da vida consagrada é a profecia, ‘espero que saibais, sem vos perder em vãs ‘utopias’, criar ‘outros lugares’ onde se viva a lógica evangélica do dom, da fraternidade, do acolhimento da diversidade, do amor recíproco’.

3. Que sejais ‘peritos em comunhão’! ‘Espero que a ‘espiritualidade da comunhão’ (…) se torne realidade e que vós estejais na vanguarda abraçando ‘o grande desafio que nos espera’ neste novo milénio : ‘fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão’’.

4. Que saiais de vós mesmos para ir às periferias existenciais! ‘Ide pelo mundo inteiro’ foi a última palavra que Jesus dirigiu aos seus e que continua hoje a dirigir a todos nós (cf. Mc 16, 15). A humanidade inteira aguarda. ‘Não vos fecheis em vós mesmos, não vos deixeis asfixiar por pequenas brigas de casa, não fiqueis prisioneiros dos vossos problemas. Estes resolver-se-ão se sairdes para ajudar os outros a resolverem os seus problemas, anunciando-lhes a Boa Nova. Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando.’

5. Que vos interrogueis sobre o que pedem Deus e a humanidade de hoje! ‘Neste ano, ninguém deveria subtrair-se a um sério controlo sobre a sua presença na vida da Igreja e sobre o seu modo de responder às incessantes e novas solicitações que se levantam ao nosso redor, ao clamor dos pobres. Só com esta atenção às necessidades do mundo e na docilidade aos impulsos do Espírito é que este Ano da Vida Consagrada se tornará um autêntico kairòs, um tempo de Deus rico de graças e de transformação.’


Os cinco horizontes

1. Os leigos que partilham ideais, espírito, missão das diversas famílias religiosas, a quem o papa encoraja a viver este Ano da Vida Consagrada como uma graça que pode torná-los mais conscientes do dom recebido.

2. A Igreja inteira, todo o povo cristão, convidados a tomar cada vez maior consciência do dom que é a presença de tantas consagradas e consagrados, herdeiros de grandes Santos que fizeram a história do Cristianismo.

3. As pessoas consagradas pertencentes a Igrejas de tradição diversa da católica : ‘Que cresça o conhecimento mútuo, a estima, a cooperação recíproca, de modo que o ecumenismo da vida consagrada sirva de ajuda para o caminho mais amplo rumo à unidade entre todas as Igrejas.’

4. O monaquismo e outras expressões de fraternidade religiosa presentes em todas as grandes religiões : ‘Caminhar juntos é sempre um enriquecimento e pode abrir caminhos novos nas relações entre povos e culturas que, neste período, aparecem carregadas de dificuldades.’

5. O episcopado : ‘Que este ano seja uma oportunidade para acolher, cordial e jubilosamente, a vida consagrada como um capital espiritual que contribua para o bem de todo o corpo de Cristo.’

Boa caminhada, com muita generosidade, entusiasmo e paixão!’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http ://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukpuZyklFeXEiWBUD

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