domingo, 12 de abril de 2015

Síntese da fé cristã

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A bula de proclamação do jubileu da misericórdia, desejado pelo Papa Francisco, é uma síntese da fé cristã. E isto porque, como se lê no início da mesma, precisamente a misericórdia é o cerne da revelação que atinge o seu ápice em Jesus de Nazaré, rosto do Pai e do seu amor, Misericordiae vultus. O documento papal destina-se significativamente a quantos quiserem lê-lo, sem distinção, e deseja que ‘a todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente’ no meio dos homens.

As datas que encerram este novo ano santo extraordinário são explicadas pelo Pontífice à luz da misericórdia, desde a inauguração, a 8 de Dezembro de 2015, até ao encerramento, no dia 20 de Novembro de 2016 : portanto, entre as celebrações litúrgicas da Imaculada Conceição e do domingo de Cristo Rei. Para salientar no início do jubileu o agir de Deus — que ‘não quis deixar a humanidade sozinha, nem à mercê do mal’, mas preservou Maria da culpa original — e, com a sua conclusão, indicar o senhorio de Cristo, ou seja, da sua misericórdia, sobre o universo.

Nesta moldura que evoca toda a história da salvação, o Papa Francisco declara que escolheu a data de início do ano santo no quinquagésimo aniversário do encerramento do Vaticano II, porque a Igreja ‘sente a necessidade de manter vivo’ o Concílio, definido o princípio de um novo percurso. Então, sentiu-se ‘a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível’, como já em 1950 Montini dissera a Jean Guitton : ‘De que adianta dizer o que é verdade, se os homens do nosso tempo não nos entendem?’.

E dos Papas do Concílio, o seu sucessor recorda na bula as palavras que inserem o Vaticano II nesta chave de leitura, antiga e sempre nova : ‘Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia’ e, assim, ‘mostrar-se mãe profundamente amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade pelos filhos dela separados’, disse João XXIII inaugurando o Vaticano II, encerrado no sinal sugestivo da ‘antiga história do samaritano’, apresentada por Paulo VI como paradigma da sua espiritualidade.

A meio século da conclusão da maior assembleia cristã jamais celebrada, o Papa Francisco recorda-a como ‘nova etapa da evangelização de sempre’. E recorre a uma imagem que evoca o título (Abater os bastiões) e o sentido de um livrinho de Hans Urs von Balthasar, publicado em 1952 : ‘Derrubadas as muralhas que, durante demasiado tempo, tinham fechado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de modo novo’ e de testemunhar com mais entusiasmo e coragem a fé em Cristo, único Senhor’.

Eis, então, o tempo favorável para voltar ao essencial e transformar cada comunidade cristã num ‘oásis de misericórdia’, eliminando a indiferença, praticando obras de misericórdia corporal e espiritual, redescobrindo a beleza da confissão e mudando de vida, abertos ao encontro com mulheres e homens das outras religiões. Como peregrinos a caminho da meta à qual cada um aspira, talvez até inconscientemente, sem medo de se deixar ‘surpreender por Deus’.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/sintese-da-fe-crista

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