domingo, 10 de maio de 2015

Terra de mártires


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*Artigo de Padre José Vieira,
Missionário Comboniano

  
A África continua a ser fecundada pelo sangue dos mártires, semente de novos cristãos e seiva de uma igreja que testemunha o Ressuscitado.
  

‘Extremistas líbios ligados ao Estado Islâmico publicaram na Internet, em Fevereiro, imagens cruentas e pavorosas em que degolavam 21 imigrantes egípcios nas praias de Sirte, tingindo de sangue as águas do Mediterrâneo. A razão? Eram cristãos coptas.

Os mártires de Sirte encontram-se quase no fim de uma longa fita do tempo cor de sangue que marca o martírio dos cristãos africanos que viveram a fé até ao fim. A contagem começou a 17 de Julho de 180, quando cinco mulheres e sete homens cristãos foram executados em Cartago, onde é hoje a Tunísia, pelos soldados romanos por se terem recusado a prestar culto ao imperador.

Ao longo dos tempos milhares de outros cristãos continuaram a regar com o seu sangue o solo africano individualmente ou em grupo às mãos dos impérios ou religiões. A lista que se segue não é exaustiva.

Os franciscanos contam no seu martirológio 13 frades, mortos em Marrocos e Ceuta, em 1220 e 1227.

Na Etiópia, depois da expulsão dos jesuítas ibéricos em 1632, um número de seguidores de Inácio de Loyola e de Francisco de Assis foram mortos nas praias do Mar Vermelho ou na Abissínia por tentarem voltar à terra do Preste João. Cinco são venerados como beatos : dois capuchinhos franceses (um deles de origem portuguesa), executados em Gondar em 1638 e três franciscanos, mortos na mesma cidade em 1716. Os imperadores etíopes pagavam em ouro o peso das cabeças de católicos degolados pelos ‘caçadores de missionários’ costeiros.

No Uganda, 23 jovens anglicanos e 22 católicos foram executados em Namugongo entre finais de 1885 e inícios de 1887 pelo rei do Buganda.

A revolta dos Simbas, em 1964, no que é hoje a República Democrática do Congo, fez mais de duas centenas de mártires, incluindo a beata Anuarite Clementina, 27 missionários dehonianos e quatro combonianos.

Aliás, a família comboniana conta com 22 missionários mortos em África, duas irmãs e 20 padres e irmãos. Mais de metade deram a vida no Uganda.

O site thereligionofpeace.com fez o levantamento dos cristãos martirizados no continente desde o fatídico 11 de Setembro de 2001 e documenta a execução de mais de 4000 cristãos em 16 dos 54 países da África : Nigéria, Líbia, Quénia, Sudão, Níger, Egipto, Somália, República Centro-Africana, Uganda, República Democrática do Congo, Camarões, Tanzânia, Tunísia, Mali, Etiópia e Eritreia.

A Nigéria é o país mais hostil aos cristãos apesar de quase metade dos Nigerianos serem batizados. A organização Open Doors indica na 2015 World Watch List que extremistas muçulmanos do Boko Haram mataram 2484 cristãos em 2014. Espera-se que o novo presidente, Muhammadu Buhari, tenha mais êxito que o seu antecessor, o cristão Goodluck Jonathan, para estancar a violência extremista no Norte do país.

Há ainda os chamados mártires ‘brancos’, aqueles que morreram silenciosamente de doenças, porque decidiram permanecer em climas agrestes, como São Daniel Comboni, que faleceu em Cartum, Sudão, aos 50 anos de idade, em 1881, vítima das febres tropicais.

Os cristãos africanos continuam a fertilizar o continente com o seu sangue e a Igreja continua a crescer a olhos vistos. Segundo o Anuário Católico, o livro de estatísticas da Igreja, a África teve mais 4,9 milhões de católicos em 2013, representando um terço do crescimento global desse ano.

O Papa Francisco durante as celebrações da Páscoa recordou os cristãos perseguidos a quem chamou ‘os mártires do nosso século’. Sublinhou que talvez sejam mais numerosos que os primeiros mártires e pediu à comunidade internacional que ‘não vire os olhos para o outro lado, que não assista de forma silenciosa e passiva a tal inaceitável crime que constitui uma preocupante violação dos direitos humanos mais elementares.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFpZFyVpAcZnmGgSf


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