quarta-feira, 8 de junho de 2016

Filhos da má sorte

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Paulo Aido,
Jornalista


 Em redor dos bairros luxuosos de Luanda, ilhas perfumadas no meio do lixo dos musseques, vivem milhões de pessoas. O afundamento do preço do petróleo veio tornar ainda mais difícil a vida desta multidão de pobres, de excluídos. Entre estes filhos da má sorte, há milhares de crianças que vivem na rua.


‘Há cicatrizes que não se apagam da memória. Ainda hoje, Angola parece não conseguir libertar-se dos tempos atrozes da guerra civil. Esses 27 anos de sofrimento parecem ter reaparecido agora com a recente crise do petróleo que fez soar todos os gritos de alarme. A economia do país, dependente do chamado ouro negro, entrou em colapso, com um aumento galopante do número dos muito pobres que rivalizam com a riqueza quase obscena de uns quantos, privilegiados.

Os bispos denunciaram este estado de coisas na sua mais recente nota pastoral. Nesse documento, os prelados afirmam que esta crise não pode ser explicada apenas pela queda do preço do petróleo, sendo necessário apontar o dedo à ‘falta de ética, má gestão do erário público e corrupção generalizada’ no país. O fim da guerra e a euforia do dinheiro fácil do petróleo transformaram a capital angolana numa terra desejada.

Hoje, Luanda é das cidades mais caras do mundo, o que é difícil de entender nos becos dos musseques onde vivem milhões na mais abjeta pobreza. É um contraste criminoso. Casas luxuosas e barracas imundas, quase lado a lado. As palavras dos bispos são a verbalização de um sentimento coletivo. Dizem os bispos que ‘a falta de critérios no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes e importação de coisas supérfluas’ explicam, em parte, a situação a que se chegou.

  
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Meninos da rua

Entre a nova geração de excluídos há os que, tendo nascido já depois do fim da guerra, nunca souberam o que significa viver em paz : são os meninos da rua. Em Luanda há bairros onde é fácil encontrar crianças e jovens que perderam a família, que desconhecem a palavra ‘carinho’, que não sabem o que é a escola, cama, comida na mesa. É nesses emaranhados de barracas, nessas ruas estreitas e perigosas, com esgotos a céu aberto, que vivem dezenas, centenas de crianças. Em Luanda há dois centros de acolhimento para crianças de rua : a Casa Magone e a Casa Mamã Margarida. São dois projetos da Igreja em que se procura dar resposta a esta chaga social. As crianças que chegam a estas casas vêm com os olhos carregados de medo e trazem consigo histórias terríveis de exploração sexual, de violência, de doença. Muitos cheiram gasolina, que é a droga das periferias. Ninguém sabe ao certo quantos meninos de rua haverá em Luanda. Serão, por certo, mais de cinco mil. Estes filhos da má sorte andam pelas ruas como se fossem invisíveis, mas graças aos responsáveis da Casa Magone e da Casa Mamã Margarida vão conseguindo fintar o futuro negro que lhes estava reservado.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


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