terça-feira, 13 de setembro de 2016

Jesus, Maria e o Alcorão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Jesus em sua grandeza infinita já havia dito
*Artigo de José Antônio de Sousa Neto
Professor da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE)

‘Faz alguns anos conversava animadamente com um colega brasileiro em um refeitório da Universidade de Birmingham no Reino Unido quando, de nós, se aproximou um simpático senhor com um largo sorriso no rosto e bochechas vermelhas que pareciam o resultado inevitável do contraste de um frio rigoroso no exterior do prédio e o calor físico e humano do ambiente interno. Com um sotaque que não consegui distinguir a priori e um olhar que exalava uma curiosidade intensa, mas não invasiva, indagou : Que língua é esta que vocês estão falando e que eu nunca ouvi, mas que entendo tudo? Estávamos ainda na época da cortina de ferro e viemos depois saber que ele era um padre ortodoxo da Romênia. Homem de cultura extensa e profunda dominava as principais línguas latinas além do grego, do aramaico, do alemão e evidentemente do próprio latim e do idioma romeno dele também derivado. Para mim este encontro foi surpreendente de diversas maneiras a começar pela permissão de um país ainda dominado por um regime comunista permitir, de forma absolutamente excepcional, a prática regular do cristianismo. Mais surpreendente ainda que o governo comunista romeno tivesse dado permissão na época para que um de seus cidadãos fosse fazer sua tese de doutorado em teologia na Inglaterra. Mas Deus tem os seus caminhos!

A tese do padre era maravilhosamente profunda e, paradoxalmente, maravilhosamente simples. Para mim típica de tudo que tem a inspiração de Deus. Seu argumento central girava em torno de um extraordinário dado de realidade que é frequentemente negligenciado por muitos : Por mais que a ciência avance, mesmo que um dia nós sejamos capazes de criar galáxias, toda a matéria prima e toda a energia utilizada seriam pré-existentes e oriundas dos próprios construtos do espaço tempo. Oriundas antes de tudo da própria Criação!

Nas conversas que se seguiram, estando nós à época em uma cidade com uma grande e próspera comunidade muçulmana o tema do Alcorão veio a nós de forma natural. O padre explicou que no seu entendimento o nosso Criador, em Sua infinita misericórdia, havia encaminhado a um povo que vivia em condições de profunda barbárie, uma mensagem que fosse adequada ao seu nível de entendimento e evolução da alma; ditada ao Profeta Maomé através do Anjo Gabriel que havia, seiscentos anos antes, anunciado à Maria a chegada de Jesus. Hoje, passados muitos anos e estarrecido pela tragédia humana das guerras na Síria, no Iraque e em seu entorno, como um ocidental que teve acesso ao Alcorão (‘A Leitura’), não consigo identificar em muitas sociedades e culturas que se dizem islâmicas as mensagens do Anjo Gabriel a Maomé consolidadas nas 114 suras do livro. Nada de excepcional nisso! Estou certo também que muitos mulçumanos que conhecem a Bíblia serão incapazes de identificar em muitas sociedades e culturas chamadas de cristãs ocidentais as mensagens divinas do Velho e do Novo Testamento.

Mas aqui gostaria de falar sobre Jesus e sobre Maria :

E quando os anjos disseram : Ó Maria, Deus te escolheu e te purificou e te exaltou acima das mulheres dos mundos’ (3-42). ‘E quando os Anjos disseram : Ó Maria Deus te anuncia a chegada de Seu Verbo, chamado Messias, Jesus, filho de Maria’ (3-45). ‘E ela perguntou : Senhor meu, como poderei ter um filho quando nenhum mortal me tocou? Respondeu : Deus cria o que Lhe apraz. Quando determina algo, basta-Lhe dizer : Sê! Para que seja’ (3-47). ‘Em seguida enviamos Jesus, o filho de Maria, para que ratificasse o que havia antes dele na Tora e outorgamos-lhe o Evangelho, no qual há orientação e luz e uma confirmação da Tora e uma preleção para os que temem a Deus’. (4-46). ‘Não há ninguém entre os adeptos do Livro que deixe de crer em Jesus antes de morrer (4-159).

Não será surpresa se muitos leitores pensarem que estas são partes da Bíblia e não do Alcorão. Como estas partes, existem no Alcorão centenas de outras que nos remetem à Bíblia confirmando de maneira contundente os ensinamentos e as mensagens divinas desta última. Mas não existem também imensas e inúmeras controvérsias com relação a muitas suras? Gostaria aqui de reproduzir três dentre elas : ‘Foi Ele quem fez descer o Livro sobre ti : nele há revelações inequívocas que lhe formam a substância, e revelações ambíguas. Aqueles que têm o coração tortuoso prendem-se às revelações ambíguas para provocar dúvidas e fomentar dissensões.’(3-7). ‘Deus guia a Sua Luz para quem lhe apraz, e fala aos homens com alegorias, e Ele está a par de tudo.’ (24-35). ‘Assim Deus põe em parábolas o verdadeiro e o falso. O falso desvanece-se como a espuma. E o que beneficia o homem permanece na terra. Deus ensina com alegorias. Quiçá compreendais. (13-17).

Evidentemente não é possível neste breve artigo capturar a complexidade destas questões e a infinita beleza destes livros sagrados. Também não é nossa intenção subestimar as diferenças de visões e interpretações entre o Cristianismo e o Islã e dentro do próprio Cristianismo e dentro do próprio Islã. Volto aqui, no entanto, a Jesus e a Maria com o coração leve e com muita alegria pelo que os livros têm em comum e não pelas suas aparentes diferenças. E são pilares fundamentais da fé!  Vejam que, além da crença em nosso único Deus comum, é sempre de um alento infinito ver também no Alcorão, de forma absolutamente inequívoca, a concepção de Jesus através de Maria Imaculada pelo Espírito Santo e o reconhecimento de Jesus como o Verbo de Deus e Seu Messias. Não haverá espaço para falar aqui sobre a ressurreição de Jesus, mas posso assegurar ao leitor que com o coração reto não lhe será difícil encontrar mais esta misericórdia de Deus para conosco também através do Alcorão. Seja através de alegorias, seja de forma direta. Sobre as diferenças cito mais uma sura : ‘Os que creem e os que abraçam o judaísmo e os sabeus e os nazarenos e quem quer que creia em Deus e no último dia e pratique o bem nada tem a temer e não se entristecerá.’ (5-69).

Mas em nosso mundo, onde existem ainda tantas almas no mais profundo engano, que ainda não entendem que não pode haver maior pecado e absurdo do que matar em nome de Deus, que é a própria Vida e o Perdão, permanecem muitas tristezas. Em suas mensagens na Hora do Angelus, aos domingos, através da tradicional janela que dá para a Praça de São Pedro (para quem tem TV a cabo dá para assistir ao vivo via RAI bem cedo pela manhã todo domingo) nosso querido Papa Francisco tem apelado a todos para que rezem pelas tragédias no oriente médio ligadas a crenças religiosas e suas ramificações por todo o mundo. Volto ao Alcorão onde está escrito em referência aos homens, ‘Há se soubessem!’ Mas Jesus em sua grandeza infinita também já havia dito ‘perdoai-os Pai porque eles não sabem o que fazem’, não é mesmo?

Para o leitor que se interessa por estas reflexões sugiro a leitura do Alcorão na tradução de Mansur Chalita que foi homenageado em seu hercúleo trabalho de tradução pela Academia Brasileira de Letras. Mesmo que você já tenha encontrado na Bíblia as respostas para a verdadeira vida, vale a pena essa pequena grande jornada. Ajuda a entender também, de onde vêm muitas das interpretações dos corações tortuosos.’


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