quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Azerbaijão : Igreja missionária e misericordiosa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Fernando Félix, 
Jornalista 


‘O Azerbaijão é pouco mais pequeno do que Portugal e a sua população também é ligeiramente menor : 9,5 milhões de habitantes. Situa-se na região do Cáucaso, no cruzamento entre o Leste Europeu e o Sudoeste Asiático, sendo, por isso, um país transcontinental. Este ano, celebra os 25 anos da proclamação da independência da ex-União Soviética.

A Constituição do Azerbaijão não declara qualquer religião oficial, mas 95 % da população é muçulmana xiita. As principais forças políticas no país são seculares, mas há movimentos e partidos da oposição ligados ao xiismo.

A comunidade católica azerbaijana é formada por cerca de 500 fiéis, tem apenas uma paróquia, confiada aos Salesianos, uma igreja e uma capela. Nela existem apenas sete sacerdotes, três religiosos, sete religiosas, dois missionários leigos e quatro catequistas. Os seminaristas são 14. Com os demais cristãos – da Igreja Ortodoxa Russa, Igreja Ortodoxa Georgiana e Igreja Apostólica Arménia – formam uma comunidade com perto de 150 mil discípulos de Cristo.


Cristãos em tempos de perseguição religiosa

O Catolicismo recente no Azerbaijão data de 1912. Oito anos depois, com a chegada dos bolcheviques, o território foi incorporado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (ex-URSS) e a Igreja Católica foi suprimida. Na década de 1930, a perseguição teve o seu pico com a destruição da única igreja, na capital, Bacu, e o assassínio do seu pároco.

Em 1991, o Azerbaijão proclamou-se independente da ex-URSS. No ano seguinte, quando representantes da Igreja Católica romana chegaram ao país, restava apenas uma dúzia de fiéis idosos dos que, em tempos, tinham sido 10 000 católicos.

O país, em 1997, proibiu por decreto toda a atividade de missionários estrangeiros. Todavia, acolheu dois papas em viagem apostólica : São João Paulo II, em 2002, e Francisco, em outubro passado.

Depois da visita de São João Paulo II, foi enviado o primeiro padre católico para o país. Ao mesmo tempo, o Governo decidiu compensar os cristãos, oferecendo-lhes um terreno para a edificação de um novo templo. E é nesta nova igreja, dedicada à Imaculada Conceição, que, todos os domingos, são celebradas três missas e são cada vez mais as crianças que frequentam a catequese.

Em 29 de Maio passado, foi ordenado diácono, em São Petersburgo (Rússia), o futuro primeiro sacerdote do Azerbaijão. Esta é uma notícia muito boa para a comunidade católica azerbaijana. Este pode ser considerado um dos primeiros frutos da presença discreta, mas verdadeiramente missionária, dos católicos.


Presença caridosa num país laico

No Azerbaijão, são mais fortes os costumes sociais e culturais do que os credos. Entre a maioria muçulmana, os costumes religiosos não são levados muito a sério, e a identidade muçulmana tende a basear-se mais na etnia e na cultura do que na religião.

O país vive tempos de prosperidade que parece pôr em segundo plano a fé. O petróleo e o gás natural fazem do Azerbaijão um país muito rico. «Tão rico que, quando as Irmãs da Madre Teresa de Calcutá decidiram abrir uma casa na capital, Bacu, em 2005, lhes disseram que podiam ir embora, que o seu trabalho não seria necessário pois não havia pobres no Azerbaijão», anota a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. As Missionárias da Caridade não deram ouvidos àquelas palavras desmotivadoras e cumpriram um dos desejos de Santa Teresa de Calcutá : abrir pelo menos uma casa, uma comunidade, em cada uma das antigas repúblicas socialistas soviéticas. Hoje, cinco irmãs desta congregação cuidam dos sem-abrigo, dos que perderam a família, dos que não têm como se sustentar, dos que permanecem à margem, estendidos nas ruas, quase invisíveis aos olhos de quem passa.


Os gestos inter-religiosos do Papa Francisco

A breve visita do Papa Francisco ao Azerbaijão – concentrada num domingo – teve um forte caráter inter-religioso. O ponto alto foi o encontro na Mesquita H. Aliyev, de Bacu, reunindo o xeque dos muçulmanos do Cáucaso, Allahshukur Pashazadeh, e representantes de comunidades cristãs e judias no país.

Ao iniciar o seu discurso, Francisco salientou o grande sinal que era o encontro, realizado em fraterna amizade naquele local de oração : «Um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões, em conjunto, podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis», frisou, e da qual o Azerbaijão se beneficia, pois «é a colaboração e não a contraposição que ajudam a construir sociedades melhores».

Este encontro, como recordou o papa, saúda, encoraja e está em continuidade com os numerosos encontros que se realizam em Bacu para promover o diálogo e a multiculturalidade.

«A fraternidade e a partilha que desejamos incrementar não serão apreciadas por aqueles que querem salientar divisões, reacender tensões e enriquecer à custa de conflitos e contrastes; mas são imploradas e esperadas por quem deseja o bem comum, e sobretudo são agradáveis a Deus, Compassivo e Misericordioso, que quer os filhos e filhas da única família humana unidos e sempre em diálogo entre si», sublinhou o pontífice.

Disse ainda o Papa Francisco, demonstrando como a harmonia entre as religiões é o melhor para o mundo : «Abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos, a reconhecer-se parte ativa de um todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros; a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade; a agir sem idealismos nem intervencionismos, sem realizar interferências prejudiciais nem ações forçadas, mas sempre no respeito das dinâmicas históricas, das culturas e das tradições religiosas.»’
  

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