segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O difícil retorno dos cristãos à Qaraqosh : 90% das casas destruídas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Padre prepara a Missa no primeiro domingo de novembro, em catedral do Iraque 

‘Qaraqosh, norte do Iraque - Não obstante a alegria pela ofensiva do exército iraquiano para libertar Mossul e os povoados da Planície do Nínive do Estado Islâmico, o caminho dos cristãos locais para retornar às suas habitações e às suas terras ainda é longo e cheio de obstáculos.

Em Qaraqosh, a maior cidade cristã da Planície do Nínive, 90% das habitações foram destruídas pelo Estado Islâmico. O perigo representado pelas minas terrestres ainda é elevado. Mas não basta derrotar o Estado Islâmico a campo, ‘é necessário enfrentar também a mentalidade ainda difusa em muitas pessoas, em tantos habitantes de Mossul que o apoiaram, e com os quais agora se deverá, de uma forma ou outra, dialogar para evitar vinganças cruéis’. É o que adverte o sacerdote sírio-católico da Diocese de Mossul, Padre George Jahola.

A alegria, os cantos e as danças para festejar o início da ofensiva iraquiana para libertar Mossul, a antiga Nínive e os povoados da Planície, não duraram muito. Para os cristãos chegados em Erbil (capital do Curdistão iraquiano) após o avanço dos milicianos do Estado Islâmico em 2014, ainda não é tempo de retornar às suas casas e povoados.

Não obstante a ameaça do Isis pareça mais distante, ainda não há motivos para uma maior tranquilidade e confiança. São graves os problemas que agora devem enfrentar, como testemunha o sacerdote sírio-católico da Diocese de Mossul, Padre George Jahola.

É difícil pensar em um retorno veloz dos cristãos aos seus povoados. Somente na cidade cristã de Qaraqosh, ao norte de Mossul, a maior da Planície do Nínive, onde até junho de 2014 ali viviam mais de 60 mil pessoas, 90% das habitações foram destruídas ou queimadas’.

O sacerdote fala com conhecimento de causa. À pedido do Arcebispo sírio-católico de Mossul, Kirkuk e de todo o Curdistão, Dom Petros Mouché, ele é o responsável por redigir um inventário de casas, locais de culto, igrejas e cemitérios cristãos destruídos pelo Daesh nestes dois anos de ocupação.

Estamos trabalhando com alguns jovens voluntários na elaboração desta lista. Atualmente, podemos dizer que mais de 6 mil habitações foram demolidas e devem ser reconstruídas do zero. Esperávamos encontrar casas saqueadas, danificadas, mas não queimadas e destruídas’, afirmou. Uma situação que leva o sacerdote a afirmar que, o que foi feito pelo Estado Islâmico, ‘é um verdadeiro genocídio, diante do qual a comunidade internacional não pode calar’. ‘Não se pode cancelar do Iraque a histórica presença das minorias’, defende.

Um dos riscos atuais para as minorias presentes no país, é serem atingidas pelo ‘fogo amigo’, ou seja, pelas próprias Instituições iraquianas. Às tensões sectárias, que estão tendo um peso também na ofensiva contra Mossul, somam-se algumas leis aprovadas recentemente pelo Parlamento que impõe diversas proibições ao comércio de bebidas alcoólicas, publicação de artigos e também no modo de se vestir na Universidade, num claro sintoma da restrição das liberdades pessoais.

Os testemunhos que chegam de Qaraqosh, falam de uma cidade desabitada e perigosa. Na retirada, o Daesh plantou minas no terreno e dispôs franco-atiradores em locais estratégicos. ‘Colocar a cidade em segurança é fundamental - defende o sacerdote - para depois pensar em reconstruir a infraestrutura e devolver assim o fôlego à comunidade local extremada’.

Os cristãos da Planície do Nínive tiveram um duplo sofrimento : despojados de seus bens, privados de tudo e expulsos de suas casas, entre junho e agosto de 2014, foram obrigados a suportar a profanação de suas igrejas, destruídas, transformadas em locais de tiro e em locais de treinamento militar. A Catedral da Imaculada Conceição, a Igreja de Mar Yuhanna e de Mar Zena foram incendiadas.

Significativa, assim, a celebração presidida em 30 de outubro por Dom Petros Mouché na Catedral da Imaculada Conceição, em Qaraqosh. ‘Um gesto de reparação - explica o sacerdote sírio-católico - pela profanação sofrida pelo local sacro, a primeira missa desde a queda da cidade e a fuga de seus habitantes. A Liturgia desenvolveu-se entre as paredes escurecidas pelas fumaça, entre os escombros do teto desabado parcialmente, entre os restos de bancos usados como lenha e as siglas do Isis pintadas nas paredes’.

Os hinos cantados em aramaico, a língua de Jesus, voltaram a ecoar nas naves da Catedral, na tentativa de apagar o ódio manifestado ali dentro nestes dois anos. Os votos do Padre Jahola é que depois de tanto sofrimento para os cristãos iraquianos, abram-se as portas para uma verdadeira cidadania, de estabilidade e de segurança. Que ao tempo da exclusão, siga-se um tempo de inclusão.’
  

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