sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Palavra de Deus e Liturgia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Pela Liturgia Deus se comunica conosco e, por essa comunicação, habita entre nós.
*Artigo de Padre Márcio Pimentel, 
presbítero da Arquidiocese de Belo Horizonte, 
especialista em música ritual pela FACCAMP, em Liturgia pela PUC-SP, 
licenciando em Educação Musical pela UEMG


‘Certa feita, conversando com uma monja beneditina sobre a relação entre música e liturgia, ela confessava : ‘para mim é a mesma coisa, não há como separar!’. De fato, na tradição monástica, o canto e a liturgia se confundem. Da mesma forma, o binômio Verbo-Liturgia. Temos, na verdade, em certo sentido, uma redundância. Não apenas porque a Palavra de Deus seja o fundamento primeiro e último das celebrações, como que configurando seu arrazoado, mas sobretudo porque a Liturgia – na compreensão mais exata legitimada pela tradição antiga da Igreja – é próprio o Verbo feito carne. Tanto Ambrósio quanto Leão Magno dão testemunho disso quando afirmam que o nosso Salvador, Jesus Cristo (Verbo de Deus) pode ser encontrado quando a Igreja celebra.

A Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina do Concílio Vaticano II, Dei Verbum, tem seu proêmio fixado na constatação do anúncio de que a Igreja faz da Palavra de Deus como algo que se pode ver e tocar : ‘anunciamos-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu : anunciamos-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós vivais em comunhão conosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo’ (1 Jo 1, 2-3).  É a ritualidade, como componente antropológico constitutivo e por isso essencial das ações litúrgicas, que proporciona a continuidade entre o tempo do Verbo e o tempo da Igreja, sem rupturas. A encarnação, neste sentido, faz-se leitmotiv dos gestos e palavras da Igreja em oração. Por ela, a Liturgia, nós continuamos a oferecer nossa humanidade para que Deus conosco se comunique e por esta comunicação Deus, em seu Verbo, venha habitar entre nós : Verbum caro factum est (o Verbo se fez carne). Nos ritos com os quais a comunidade dos fiéis celebra o Mistério Pascal de Jesus, resplandece a Palavra de Deus e essa, por sua vez, faz-se inteligível como fato estético não só para a assembleia reunida, mas nela mesma, mediante sua corporeidade, pessoal e comunitária.

Seguindo esse raciocínio, concluímos que a Liturgia, por definição, aborda a Palavra de Deus como um acontecimento sacramental. O sacrammentum é exatamente a Palavra visível, se tomarmos como referência as noções teológicas de Orígenes e Agostinho : tira a Palavra e o que sobra? Água, Óleo, Pão. Cláudio Pastro oferece um conceito sintético de Liturgia que vai nesta mesma direção : ‘a encarnação do Mistério Pascal em nosso corpo[1] Por trás desta perspectiva ressoa um antigo ensino patrístico: caro salutis cardo, ou seja, a carne é instrumento da salvação. Escreve Tertuliano, em seu De Ressurrectione Mortuorum :

Quando entre a alma e Deus se estabelece um elo de salvação, é a carne que faz com que ele exista. Assim, a carne é lavada para que a alma seja purificada; a carne é ungida, para que a alma seja consagrada; a carne é marcada com o sinal da cruz, para que a alma seja fortalecida; a carne é coberta com a sombra da imposição das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito; a carne é alimentada com o Corpo e Sangue de Cristo, para que a própria alma seja saciada. [2]

A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium, ensina que ‘a Liturgia (...) edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito[3]. Essa afirmação, que tem seu fundamento na Sagrada Escritura [4], ecoa em toda ação litúrgica cristã. O culto dos cristãos como empreendimento religioso somente se explica e sustenta se assumido nessa direção. E é exatamente nesse item que se diferencia das outras tradições e caminhos espirituais. No cerne de toda Liturgia está a nossa humanidade como lugar e condição para que se efetue a salvação. Humanidade assumida por Deus na encarnação de seu Filho e que, segundo a mesma Sacrosanctum Concilium, tornou-se ‘instrumento da nossa salvação.’ [5]

Tudo isso nos leva a considerar a assembleia litúrgica como sendo o contexto por excelência para a leitura e interpretação da Sagrada Escritura. ‘É na Liturgia que Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho’. [6] A Bíblia, testemunho mais eloquente da Revelação, unida à Tradição da Igreja, tem na Liturgia seu lugar de cumprimento. Ao celebrar, o Povo de Deus professa a fé, narrando-a, experimentando-a e a exprimindo mediante os ritos e preces. Assimilam o Verbo da Vida que hospedam em seu corpo, de maneira a transformar-se nEle próprio, conforme rezamos no 27º Domingo do Tempo Comum após a comunhão : ‘sejamos transformados naquele que agora recebemos’. Por esse motivo, os padres conciliares solicitaram maior abundância de textos escriturísticos nas celebrações da Igreja, bem como se tornasse clara a conexão entre Palavra de Deus e Rito. [7]

Enfim, porque a Liturgia é a própria vida do Filho em nós [8], Palavra feio carne nele e – como prolongamento – também em nós, deve-se concluir que somente através do rito nos é possível a experiência do Mistério de Deus. [9] Esse ‘somente’ não é exclusivo, porque a Liturgia ‘não esgota toda a ação da Igreja’ [10]. Entretanto, porquanto ela (a Liturgia) seja ‘simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força[11] a ritualidade é condição inclusiva de todas as demais atividades da Igreja como ocasião para que a Revelação continue a reverberar no seio da humanidade. Em suma, não há fé cristã sem ritos, porque não há mundo sem Palavra e não há – na ordem da criação e da encarnação, sacramentalmente falando – Palavra sem Liturgia. A Liturgia é a própria carne do Verbo, pois Cristo se fez lugar no qual Deus mesmo se faz Servo, arma a tenda, põe a mesa e, dando-se, convive conosco, de modo que é na carne humana do Filho que se dá que o culto divino se faz pleno. [12]

[1] PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 32.[2] Tertuliano. De ressurrectione mortuorum, 8,3. In. Antologia Litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 220, n. 741.
[3] Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 2. In.http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html
[4] Cf. 1Pd 2,4-10.
[5]  Sacrosanctum Concilium, 5.
[6] Sacrosanctum Concilium, 33.
[7] Cf. Sacrosanctum Concilium, 35.
[8] Cf. MARINI, Piero. Primum Celebrare. In. GRILLO, Andrea, RONCONI, M. La reforma della Liturgia. Milano: Periodici San Paolo, 2009, p. 4.
[9] Cf. MARINI, Piero. Prospettive per una pedagogia della fede celebrata. In. Il Misale expressione della Traditio Ecclesiae. Rivista Liturgica, n.97. Padova: Edizioni Messagero, 2010, p.438.
[10] Sacrosanctum Concilium, 9.
[11] Sacrosanctum Concilium, 10.
[12] Cf. Sacrosanctum Concilium, 5.
 Fonte :


A Palavra de Deus na vida

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Resultado de imagem para bible shadow
*Artigo de Padre Rodrigo Ferreira da Costa,
Missionário Sacramentino de Nossa Senhora


‘Deus é comunicação. ‘Ele nos falou muitas vezes e de muitos modos, e nesses dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho’ (cf. Hb 1, 1-2), ‘Palavra eterna do Pai que se fez carne  e morou entre nós’ (cf. Jo 1,14). Em Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus se fez palavra humana. Por Ele, Deus nos fala usando linguagem humana, ou melhor, Deus mesmo fala de si na linguagem humana, ou ainda, a linguagem humana nos fala de Deus. Na Palavra de Deus humanada, abre-se uma nova perspectiva para ouvir a Palavra de Deus (Escritura), para falar com Deus (oração) e para falar sobre Deus (teologia). Agora podemos ir a Deus, porque Deus mesmo veio a nós, ou seja, a porta que entramos (ir) para Deus é a mesma que ele usou para vir a nós, a saber, a humanidade.

Santo Agostinho dizia que Deus escreveu dois livros. O primeiro livro não é a Bíblia, mas, sim, a criação, a natureza, a vida. É pelo Livro da Vida que Deus quer falar conosco. Tudo o que existe é expressão do Dizer de Deus. Cada ser humano é uma palavra ambulante de Deus. Porém, devido à nossa tentação de querer dominar tudo, as letras desse livro se atrapalham e acabamos por não ouvir Deus na vida. Então, para nos ajudar a ler a vida, Deus escreveu mais um livro que é a Bíblia. Esse segundo livro não foi escrito para substituir o Livro da Vida. Pelo contrário. A Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o Livro da Vida, a descobrir Deus na vida.

A leitura diária da Bíblia, dizia Agostinho, é como um colírio que colocamos no olho, que melhora a nossa visão e, com esse novo olhar de contemplação, somos capazes de decifrar o mundo e perceber nele os sinais da presença amorosa de Deus, de modo que o universo se torne novamente lugar da revelação de Deus, e volte a ser o que é : ‘o Primeiro Livro de Deus’ para nós.

Ajudar-nos a descobrir Deus na vida, a escutar Deus no rosto do outro. Esse é o grande objetivo das Escrituras Sagradas. Pois ouvir/obedecer a voz do rosto que grita por justiça e que me implora : ‘não matarás!’ é a única via que conduz à compreensão da palavra Deus. Neste sentido, ‘o clamor dos pobres, verdadeiro sinal de nosso tempo, constitui um lugar teológico especial e privilegiado, não como fonte de revelação, mas como lugar adequado onde a Palavra se faz história e o Espírito a recria’ (CODINA, Victor . Não extingais o Espírito. p. 252).

A Bíblia antes de ser escrita ‘caminhou’ com o povo de Israel pelo deserto. A experiência da libertação de Israel da escravidão do Egito narrada no livro do Êxodo é o evento fundante de todo o Antigo Testamento (AT). Entretanto, foi no período do Exílio na Babilônia (597/586 -538 a.c.) que se constituiu a maior parte dos escritos do AT. Diante da crise pela perda da terra, a destruição do Templo e do perigo de diluir a identidade de povo, em meio aos estranhos, na Babilônia, Israel relê a sua história à luz da fé, reconhece o seu desvio da Aliança que havia feito com o Senhor e procura reerguer o ‘edifício’ que havia desmoronado com a crise do Exílio. Desta forma, ‘relendo e compreendendo sua história, o povo bíblico não viu apenas como num espelho o seu próprio rosto, mas enxergou o rosto de Deus e percebeu o Mistério que o conduziu em suas andanças e migrações, sucessos e malogros.’ (KONINGS, Johan. A palavra se fez livro. p. 84).

A origem do Novo Testamento (NT) não foi muito diferente.  O ‘evento’ Jesus de Nazaré marcou a memória dos seus primeiros seguidores. Jesus foi um homem do povo, realizou obras grandiosas, chamou discípulos, proclamou o Reinado de Deus, assumiu-se como o Filho de Deus... Porém com a sua morte veio a frustração. Toda esperança parecia estar acabada. A fé na ressurreição, entretanto, reaviva a memória da comunidade cristã, desperta os seus seguidores a reler as Escrituras e a perceber nelas o anúncio de um Messias que será aplicado a Jesus, o Cristo. ‘E, começando por Moisés e percorrendo todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele’ (Lc 24,27).

Percebe-se que a Bíblia nasceu ligada à vida. Ela foi escrita para animar a esperança e fortalecer o povo na fé. A Bíblia anima e ilumina a vida e a vida concreta do Povo de Deus atualiza a Bíblia. Na comunidade reunida, na Igreja que testemunha e anuncia a Palavra de Deus, essa Palavra continua se fazendo carne. Pois toda leitura da Bíblia é uma releitura. O texto sagrado jamais fica ultrapassado. Ele mantém-se sempre vivo e atual devido às releituras da comunidade. Daí a importância de ler a Bíblia com o olhar atento no texto, no contexto em que este foi escrito e na realidade concreta da comunidade de hoje. Desligada da ‘boa terra’ da realidade viva do povo, a Palavra semeada não produz, não gera conversão, esperança e fé.

Dessa forma, abeirar-se das Escrituras não significa apreender decretos e verdades sobre Deus. Trata-se de contemplar o próprio Deus que fala de si mesmo a nós seres humanos, como um amigo fala com o amigo. ‘O SENHOR falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo’ (Ex 33, 11). Por isso a Igreja sempre considerou as divinas Escrituras como regra suprema da sua fé. Como afirma São Jerônimo : ‘Quando vamos receber o mistério eucarístico, se cair uma migalha sentimo-nos perdidos. E, quando estamos a escutar a Palavra de Deus e nos é derramada nos ouvidos a Palavra de Deus que é carne de Cristo e seu sangue, se nos distrairmos com outra coisa, não incorremos em grande perigo? Realmente presente nas espécies do pão e do vinho, Cristo está presente, de modo semelhante, também na Palavra de Deus’ (cf. Verbum Domini, n. 56).

Uma experiência bem sucedida desse modo de ler a Bíblia ligada à vida acontece nos Grupos de Reflexão da Bíblia (círculos bíblicos) que procuram ler a Bíblia à luz da vida concreta da comunidade. Tendo como eixo central o texto das Escrituras, procura-se encontrar respostas para as crises e alimentar o profetismo do povo, no sonho por um mundo diferente.  Esse modo de anunciar a Palavra de Deus em família, fazê-la circular de casa em casa, de coração a coração, amplia o contato e o conhecimento da Bíblia, aproxima as pessoas, abre os olhos para ver as realidades de injustiça e pecado presentes na sociedade, desperta novas lideranças para os diversos ministérios na comunidade, anima a vida de fé e fortalece o testemunho cristão do povo. Esses grupos de estudo bíblico são como que pequenas células que animam, geram vida e compromisso de fé nas comunidades.

Da igreja para as casas e das casas para o engajamento na comunidade. Os grupos de reflexão da Bíblia nos faz sair da inércia, do individualismo, para irmos ao encontro do grito dos oprimidos e dos lamentos dos infelizes levando a esperança, compartilhando a fé e a caridade. Desse modo, as pessoas não ficam isoladas em seus grupos, mas no encontro mensal que reúne todos os grupos da comunidade é escolhido um gesto concreto a ser realizado por toda comunidade. Isso faz com que os grupos passem da reflexão para a ação missionária na comunidade e na sociedade. 

Os Grupos de Reflexão, com uma linguagem simples e acessível a todas as pessoas, falam da profundidade da Palavra de Deus, partindo do cotidiano das pessoas para revelar-lhes algo mais essencial : o tesouro do reino. É a Palavra de Deus se fazendo carne na vida do povo de Deus e, ao mesmo tempo, é luta concreta do dia a dia do povo se fazendo palavra de Deus. Como afirma T. Radcliff, ‘se a Palavra se fez carne, foi também para que a carne pudesse se fazer Palavra’.

Conclui-se, portanto, que a Palavra de Deus é maior do que a Bíblia. Deus se autocomunica através da história humana, dos acontecimentos, dos ‘sinais dos tempos’, da Tradição da Igreja... Porém nos fala de modo muito particular nas Sagradas Escrituras, pois de forma análoga ao Verbo divino que se fez carne assumindo a fragilidade humana, a Palavra de Deus assumiu a fragilidade da linguagem humana, fez-se Livro (cf. Dei Verbum, n.13). Nesse sentido, o testemunho de fé descrito nas páginas das Escrituras Sagradas é como gotejo de chuva, como chuvisco sobre as plantas e aguaceiro sobre as pastagens (cf. Dt 32,2), que fecunda e faz brotar a boa semente da fé, da esperança e da caridade em nossos corações.’


Fonte :


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O gesto do pobrezinho de Assis

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A Palavra de Deus ao entrar no coração do ser humano, quer a conversão deste.
*Artigo de Padre Geovane Saraiva,
Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal


‘Quando o cristão percebe, à luz da palavra de Deus, que está envolvido com a misteriosa presença divina, acorda para uma consciência responsável e um ardor missionário. A Palavra de Deus, que é dom e graça, ao entrar no coração do ser humano, quer não só sensibilizá-lo, mas a conversão deste, na busca da solidariedade e da vivência da justiça, diante da dor e do sofrimento, exigindo daquele que se dispõe a seguir a Jesus de Nazaré um esforço constante de renovação da face da terra, num desejo de superação dos sinais de iniquidade tão presente no mundo.

Como é maravilhoso notar nas pessoas uma fé viva, lúcida e consequente! Nunca é demais repetir o atraente desafio no exemplo de São Francisco de Assis, no seu louco, apaixonado e ardoroso amor, totalmente voltado para Deus e suas criaturas. Vivemos na Igreja o momento dos festejos do Pobrezinho de Assis, o qual nos favorece a meditar na radical entrega do Filho de Deus. São dias abençoados, os quais faz-nos compreender em profundidade o célebre gesto de Francisco de Assis, voltar atrás, descer do cavalo e beijar o leproso, dizendo-nos do desafio de desmontar do cavalo, que é a nossa pouca solidariedade, orgulho, intransigência e intolerância.

Aquela voz indizível que inspirou Francisco de Assis, de ir restaurar a Igreja, a vemos muito nítida no Papa Francisco, nas suas generosas atitudes de humildade, sem esquecer da sua palavra profética, sempre causando impacto com uma boa notícia. A capela de São Damião, a Igreja Porciúncula e a Igreja de São Pedro, restauradas pelo grande Santo de Assis, representam a Igreja inteira e a própria humanidade, que, à luz da palavra de Deus, precisa mais do que nunca ser restaurada e renovada.

A indiferença, diante do clamor do mundo e da própria Igreja de Jesus Cristo em busca de socorro, é tarefa dos cristãos e de todas as pessoas de boa vontade. O mundo ficaria encantado e edificado com um gesto promissor de arauto da paz por muitos irmãos, ao dizer não a tudo que degrada, bem como a busca do poder, do ter e do prazer, quando percebemos uma acentuada tendência de se retornar ao luxo e à glória do mundo, mesmo dentro da Igreja. É nesse sentido que o Papa Francisco, não só surpreende, mas impressiona e causa admiração, pela simplicidade e proximidade com as pessoas e intimidade com o clamor do planeta.’


Fonte :

Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Resultado de imagem para saint michael, saint gabriel, saint raphael


‘Com alegria, comemoramos a festa de três Arcanjos neste dia : Miguel, Gabriel e Rafael. A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção a estes amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro pois, como São Paulo, vivemos num constante bom combate. A palavra ‘Arcanjo’ significa ‘Anjo principal’. E a palavra ‘Anjo’, por sua vez, significa ‘mensageiro’.

São Miguel

O nome do Arcanjo Miguel possui um revelador significado em hebraico : ‘Quem como Deus’. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que querem nos fazer perdedores também. ‘Houve então um combate no Céu : Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu’. (Apocalipse 12,7-8)

São Gabriel

O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa ‘Força de Deus’ ou ‘Deus é a minha proteção’. É muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico : ‘No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré… O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe : ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus’…’ a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho como se deu a Encarnação.

São Rafael

Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus. Rafael aparece no Antigo Testamento no livro de Tobit. Este arcanjo de nome ‘Deus curou’ ou ‘Medicina de Deus’, restituiu à vista do piedoso Tobit e nos demonstra que a sua presença, bem como a de Miguel e Gabriel, é discreta, porém, amiga e importante. ‘Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus’ (Tob 5,4).

São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!


Fonte :


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Irã : Surpreende número de conversões ao cristianismo no país dos ayatolás

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘O Irã ocupa a nona posição na lista da Open Doors, dos países mais perigosos para os cristãos : a abertura de igrejas é proibida e a conversão da religião de Estado, o Islã, é punível com a morte para os homens e a prisão para as mulheres. Somente no último ano, mais de 100 cristãos foram mortos ou torturados. Não obstante isto, o cristianismo tem crescido de maneira surpreendente no país dos ayatolás.


País com maior aumento de cristãos

Em 2015, a organização missionária Operation World indicou o Irã como o país no mundo em que a população cristã, predominantemente evangélica, cresce mais rapidamente, com um aumento anual estimado em 19,6%.

De fato, nos últimos dois decênios, o número de iranianos convertidos ao cristianismo seria superior àquele calculado nos precedentes 13 séculos.


Mais de 1 milhão

Hoje, segundo dados da Christian Solidarity Worldwide - organização cristã comprometida na defesa dos direitos humanos e da liberdade religiosa - seriam mais de um milhão os iranianos convertidos ao cristianismo. E as dificuldades enfrentadas pelos cristãos no país seriam, precisamente, um dos motivos de seu crescimento.


Na prática, liberdade religiosa é violada

Não obstante a Constituição iraniana reconheça cristãos, judeus e zoroastrianos como minorias religiosas protegidas, o governo continua a utilizar leis religiosas especiais para oprimir reformistas, ativistas políticos, defensores dos direitos humanos e das minorias religiosas. Ou seja, se na teoria a liberdade religiosa é protegida, na prática ela é violada e não garantida.


Condenações à morte

Sob o Presidente Hassan Rouhani, as violações dos direitos humanos - entre os quais o direito à liberdade religiosa - pioraram sensivelmente. O Irã condena à morte mais do que qualquer outro país no mundo e uma importante parcela dos mortos pertence às minorias religiosas.

Os cristãos no Irã, no geral são acusados de realizar ações contra a segurança nacional, de espionagem, ou também de apostasia e blasfêmia.

Certamente, nem todos os cristãos acabam na prisão, mas viver abertamente a sua fé é arriscado. No total, CSW refere que cerca de 120.000 pessoas foram justiçadas desde 1981 pelas suas convicções políticas ou religiosas. 2.500 das quais foram enforcadas por Rouhani, que subiu ao poder em 2013. Ele havia prometido proteger os direitos humanos e a igualdade de todos os cidadãos do Irã, mas na práticas estas promessas foram descumpridas.


Diáspora iraniana

Em tal contexto, o desenvolvimento do cristianismo é muito grande e não limitado unicamente ao Irã. O aumento é verificado também na diáspora iraniana, em países como o Reino Unido, Estados Unidos, Turquia, Alemanha e Canadá, onde os cristãos iranianos são muito ativos nas mídias. Existem, de fato, diversos canais que transmitem pregações do Evangelho na língua farsi.

Historicamente, a Igreja iraniana conseguiu não somente resistir, mas se fortaleceu nos momentos de perseguições e de perigo, e o irã confirmaria este dado.


Efeito contrário

Outro fator que teria favorecido a conversão ao cristianismo, seria a má propaganda que o regime dos mulá fez do Islã. As restrições à liberdade de expressão, aos direitos das mulheres, à violência, as perseguições aos ativistas dos direitos humanos, dando uma imagem muito ruim do Islã e isto pode ter levado muitos iranianos, em particular as jovens gerações, a buscar alternativas no cristianismo.’


Fonte :


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Comemoração conjunta católico-luterana: um sinal de esperança a um mundo dividido

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Permanecer no diálogo ao longo de décadas acaba gerando frutos.

‘Diante de conflitos mundiais generalizados, a vista do Papa Francisco às cidades suecas de Lund e Malmö para uma comemoração conjunta da Reforma será um ‘sinal de esperança’ a um mundo dividido e sofredor. É a opinião do Rev. Martin Junge, secretário geral da Federação Luterana Mundial, que participou do Dia Mundial de Oração pela Paz em Assis no começo da semana passada.

No dia 31 de outubro próximo, o pontífice e outros líderes da Federação Luterana Mundial irão presidir juntos uma celebração na Catedral de Lund, para pedir perdão por conflitos passados e dar graças pelos últimos 50 anos de diálogo ecumênico.

Em seguida, conduzirão uma celebração com os jovens na Arena de Malmö, centrando-se no compromisso com o testemunho comum e destacando a cooperação em áreas como a justiça, a paz e a proteção ambiental entre a Caritas Internationalis e a rede de Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial.

O Rev. Martin Junge crê que estes eventos oferecem aos católicos e luteranos uma oportunidade única para mostrar que o diálogo produz, de fato, resultados concretos e que pode representar uma mensagem poderosa de unidade e serviço aos mais necessitados.

O líder luterano afirma que a comemoração conjunta ‘não saiu do nada’, dizendo ser ‘o resultado de diálogos e entendimentos teológicos profundos que há tempos vêm sendo feitos e que alcançamos’.

Estes resultados, acrescenta, estão bem documentados em ‘marcos muito importantes do processo ecumênico que tivemos com a Igreja Católica’, tais como a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, de 1999, a qual o Rev. Junge descreve um ‘pilar teológico’ desta comemoração conjunta como um todo.

Em segundo lugar, o secretário geral salienta o relatório conjunto de 2013 emitido pela Comissão Católico-Luterana para a Unidade chamado Do Conflito à Comunhão, que conta a história da Reforma a partir de uma perspectiva compartilhada. Esse documento, diz ele, identifica questões teológicas que foram superadas, mas também algumas das tarefas que se encontram à frente, em particular os debates sobre o ministério, a Igreja e a Eucaristia.

O reverendo observa ainda que as igrejas católica e luterana locais carregam ‘memórias diferentes e experiências diversas’, algumas das quais são ‘dolorosas e difíceis’ e que, portanto, segundo ele, ‘a tarefa de cura das memórias’ está diante de nós. O líder luterano acrescenta que há um ‘padrão claro’ na forma como as igrejas majoritárias e minoritárias se relacionam uma com a outra.

Mas a ‘grande oportunidade dessa comemoração conjunta’, diz, é que ‘iremos assumir essa história – não estamos negligenciando-a ou pondo-a de lado; nós a reconhecemos, mas ao mesmo tempo estamos dizendo que não queremos ficar presos à história’. Pelo contrário, queremos ‘nos tornar e permanecer abertos ao futuro comum, onde Deus nos convida a sair’ e o qual já compartilhamos por meio do batismo. Juntos iremos dizer : ‘queremos distanciar-nos dos conflitos’ e trabalhar naquilo que ainda temos de fazer no caminho à plena unidade.

Ao falar sobre os conflitos atuais, a violência e o rompimento dos canais de comunicação entre comunidades e países, Junge diz que a comemoração conjunta quer transmitir uma mensagem poderosa, segundo a qual ‘permanecer no – e sustentar um – diálogo ao longo de décadas acaba gerando frutos’. A mensagem poderosa que católicos e luteranos podem dar juntos, declara o luterano, é a de deixar deliberadamente o conflito para trás, na medida em que se passa a um novo estágio nas relações. Isso significa ‘não se ocupar consigo mesmo apenas, mas também estar bem aberto e ser bastante atencioso’ de forma que o estar junto transforme-se numa ‘fonte para os outros’ e num ‘sinal de esperança’ a um mundo ferido.’


Fonte :

Comemoração conjunta católico-luterana: um sinal de esperança a um mundo dividido

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Permanecer no diálogo ao longo de décadas acaba gerando frutos.

‘Diante de conflitos mundiais generalizados, a vista do Papa Francisco às cidades suecas de Lund e Malmö para uma comemoração conjunta da Reforma será um ‘sinal de esperança’ a um mundo dividido e sofredor. É a opinião do Rev. Martin Junge, secretário geral da Federação Luterana Mundial, que participou do Dia Mundial de Oração pela Paz em Assis no começo da semana passada.

No dia 31 de outubro próximo, o pontífice e outros líderes da Federação Luterana Mundial irão presidir juntos uma celebração na Catedral de Lund, para pedir perdão por conflitos passados e dar graças pelos últimos 50 anos de diálogo ecumênico.

Em seguida, conduzirão uma celebração com os jovens na Arena de Malmö, centrando-se no compromisso com o testemunho comum e destacando a cooperação em áreas como a justiça, a paz e a proteção ambiental entre a Caritas Internationalis e a rede de Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial.

O Rev. Martin Junge crê que estes eventos oferecem aos católicos e luteranos uma oportunidade única para mostrar que o diálogo produz, de fato, resultados concretos e que pode representar uma mensagem poderosa de unidade e serviço aos mais necessitados.

O líder luterano afirma que a comemoração conjunta ‘não saiu do nada’, dizendo ser ‘o resultado de diálogos e entendimentos teológicos profundos que há tempos vêm sendo feitos e que alcançamos’.

Estes resultados, acrescenta, estão bem documentados em ‘marcos muito importantes do processo ecumênico que tivemos com a Igreja Católica’, tais como a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, de 1999, a qual o Rev. Junge descreve um ‘pilar teológico’ desta comemoração conjunta como um todo.

Em segundo lugar, o secretário geral salienta o relatório conjunto de 2013 emitido pela Comissão Católico-Luterana para a Unidade chamado Do Conflito à Comunhão, que conta a história da Reforma a partir de uma perspectiva compartilhada. Esse documento, diz ele, identifica questões teológicas que foram superadas, mas também algumas das tarefas que se encontram à frente, em particular os debates sobre o ministério, a Igreja e a Eucaristia.

O reverendo observa ainda que as igrejas católica e luterana locais carregam ‘memórias diferentes e experiências diversas’, algumas das quais são ‘dolorosas e difíceis’ e que, portanto, segundo ele, ‘a tarefa de cura das memórias’ está diante de nós. O líder luterano acrescenta que há um ‘padrão claro’ na forma como as igrejas majoritárias e minoritárias se relacionam uma com a outra.

Mas a ‘grande oportunidade dessa comemoração conjunta’, diz, é que ‘iremos assumir essa história – não estamos negligenciando-a ou pondo-a de lado; nós a reconhecemos, mas ao mesmo tempo estamos dizendo que não queremos ficar presos à história’. Pelo contrário, queremos ‘nos tornar e permanecer abertos ao futuro comum, onde Deus nos convida a sair’ e o qual já compartilhamos por meio do batismo. Juntos iremos dizer : ‘queremos distanciar-nos dos conflitos’ e trabalhar naquilo que ainda temos de fazer no caminho à plena unidade.

Ao falar sobre os conflitos atuais, a violência e o rompimento dos canais de comunicação entre comunidades e países, Junge diz que a comemoração conjunta quer transmitir uma mensagem poderosa, segundo a qual ‘permanecer no – e sustentar um – diálogo ao longo de décadas acaba gerando frutos’. A mensagem poderosa que católicos e luteranos podem dar juntos, declara o luterano, é a de deixar deliberadamente o conflito para trás, na medida em que se passa a um novo estágio nas relações. Isso significa ‘não se ocupar consigo mesmo apenas, mas também estar bem aberto e ser bastante atencioso’ de forma que o estar junto transforme-se numa ‘fonte para os outros’ e num ‘sinal de esperança’ a um mundo ferido.’


Fonte :

domingo, 25 de setembro de 2016

Misericórdia : Em lugar de palavras, obras

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Madre Teresa podia ter sido muito religiosa e indiferente, mas, não quis ser incoerente.

*Artigo de Dom Reginaldo Andrietta,
Bispo de Jales


‘Poucos dias após a canonização da Madre Teresa de Calcutá, o Papa Francisco, em uma audiência concedida a 153 novos bispos de todo o mundo, reunidos em Roma para um Curso de Formação, no qual estive presente, expressou a importância de seguirmos o exemplo dessa querida ‘mãe dos pobres’, recomendando que nossa vida expresse também a misericórdia de Deus.

O Papa nos convidou a tornar a misericórdia pastoralmente concreta, solidarizando-nos com os que sofrem, seguindo o exemplo do Bom Samaritano, do Evangelho de Lucas :  ele toca as feridas e cuida do homem roubado e violentado no caminho de Jericó. Nessa parábola, Jesus também denuncia a lógica da indiferença, manifestada, paradoxalmente, por duas pessoas religiosas.

Madre Teresa podia ter sido muito religiosa e indiferente, mas, não quis ser incoerente. Ela assumiu crianças abandonadas, moradores de rua, doentes e moribundos, os que a sociedade marginaliza, como seus amigos preferidos, porque são amados, em primeiro lugar por Deus. Diante desses e de outros que a sociedade explora e descarta, diferentemente dela, muitos mantêm seus olhos fechados e seus corações endurecidos.

A violência e a indiferença, presentes no mundo, nos fazem pensar sobre algumas palavras que o Papa dirigiu aos novos Bispos : ‘O caminho de Jericó não está distante de nós’; ele pode estar até mesmo em nossos lares; e reafirmou o que já havia expressado na Exortação Apostólica Alegria do Amor : ‘deem uma atenção especial a todas as famílias’; ‘acompanhem sobretudo as mais feridas’.

A misericórdia foi tão enfatizada no Curso para Novos Bispos, que o Cardeal Marc Ouellet, do Canadá, prefeito da Congregação Pontifícia para os Bispos, ao concluir o Curso, ressaltou que, embora a misericórdia tenha sido evidenciada neste Ano Santo, os Bispos devem expressar o perfil de pastores misericordiosos, sempre, porque este é o perfil de Cristo e da Igreja.

Logo encerraremos o Ano Santo da Misericórdia, certamente mais comprometidos em obras de misericórdia, que tornam a fé viva, conforme salienta o apóstolo Tiago : ‘De que aproveitará a alguém dizer que tem fé se não tiver obras. Acaso a fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e alguém lhe disser ide em paz, sem dar-lhe o necessário para o corpo, de que lhe aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras é morta’.

Os novos Bispos, ouvimos com insistência em Roma, que devemos ser apóstolos da misericórdia, expressão real de Cristo, Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Os membros de nossas comunidades não podem, portanto, estranhar que nosso testemunho e nossos ensinamentos, sejam focados na espiritualidade e na ética da solidariedade, da misericórdia e da justiça, tão necessárias e urgentes na sociedade atual, extremamente dividida entre ricos e pobres, poderosos e explorados.

Se isso parecer estranho, entendamos, conforme diz o Papa, que Santa Teresa de Calcutá também fez ‘sua voz chegar aos poderosos da terra para que reconheçam sua culpa perante os crimes de pobreza criados por eles mesmos’. Que esta ‘incansável trabalhadora da misericórdia’ nos inspire a compreender o que o apóstolo João expressou sobre o que aprendeu de Jesus a respeito da misericórdia : em lugar de palavras, obras (1 João 3,18).’


Fonte :



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O drama dos refugiados, uma questão humanitária

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Milhares saem de seus países por uma questão de sobrevivência.
*Artigo de Felipe Magalhães Francisco,
Mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.


‘Uma das experiências mais traumáticas para o povo de Israel foi o exílio da Babilônia, em 587 antes da era cristã. De tão traumática, a experiência resultou numa ressignificação da fé. A fé do povo de Israel nasce com a libertação da escravidão no Egito e se firma com a Aliança entre Deus e o povo, tal como nos narra Ex 19. A posse da terra, como cumprimento da promessa feita por Deus, significa o fortalecimento da identidade do povo da Aliança. O não direito à terra, nesse sentido, significou forte ruptura com essa identidade, colocando a fé do povo em crise e diante da urgência de ressignificação.

O Salmo 137 (136) aborda a questão, manifestando os impactos existenciais na vida do povo : ‘Na beira dos rios de Babilônia, nós nos sentamos a chorar, com saudades de Sião. Nos salgueiros ali perto penduramos nossas cítaras [...]’ (vv. 1-2). A dor da partida reafirma a memória e mexe profundamente com o povo, fazendo-o desejar a vingança : ‘Filha de Babilônia, devastadora, feliz quem te devolver o mal que nos fizeste! Feliz quem agarrar e esmagar teus recém-nascidos contra a rocha!’ (vv. 8-9). A dureza da fala, vinda da mais legítima revolta, choca-nos, mas nos ajuda a perceber a dor da perda da própria terra, chão da própria identidade.

Todos os anos, milhares e milhares de pessoas saem de sua terra, em busca de melhores condições de vida. Entre esses milhares e milhares saem de seus países por uma questão de sobrevivência. A situação dos refugiados é verdadeiro drama humano, que precisa ser pensado e situado na dinâmica da busca pela realização da humanidade. No mundo todo, a questão das pessoas que deixam sua própria terra é exigente e reclama muita atenção. Mesmo sendo uma questão de sempre, apenas há pouco tempo o mundo volta seu olhar para a situação. Das periferias existenciais, os refugiados se encontram na periferia das periferias.

Nos campos de concentração, padecem a não hospitalidade : saídos de sua terra, em busca de possibilidades de vida, sobrevivem, quando não sucumbem antes da chegada. No lugar de portas abertas, encontram muros e cercas, são condenados à ‘prisão da exclusão’ : presos do lado de fora. No mundo globalizado não há lugar para pessoas, como cidadãs do mundo, apenas para riquezas de uns poucos, de mercadorias e de apropriação dos bens naturais dos países não desenvolvidos e da força do trabalho de seus habitantes.

Junto ao drama dos refugiados, vítimas de guerras que não lhes dizem respeito, cresce o discurso de ódio, não hospitaleiro, xenófobo e extremamente preconceituoso quanto à religião dos refugiados. Nos discursos nacionalistas, o fechamento ao outro, mas a permanente abertura às riquezas apropriadas dos países desse outro. Na linguagem popular : um constante ‘venha a nós o vosso Reino’ e nada de ‘seja feita a vossa vontade’. Os refugiados não existem : são anulados, desumanizados. A situação exige responsabilidade por parte dos líderes mundiais. E isso significa transformar as realidades que causam a fuga das pessoas de seus próprios países, tal como as guerras movidas por interesses econômicos e de dominação. A fala de Jesus seja insistente entre nós : ‘Entre vós não deve ser assim’ (Mc 10,43).’


Fonte :

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Consenso entre ortodoxos e católicos sobre sinodalidade e primado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A Comissão Mista Internacional para o diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, cuja plenária concluiu-se em Chieti esta quinta-feira (22/09), chegou a um acordo sobre a adoção do documento intitulado ‘Rumo a uma comum compreensão da sinodalidade e do primado a serviço da unidade da Igreja’.

É o que informa o Departamento Sinodal para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou, que em um comunicado em seu site, sublinhou também os desafios para o futuro. Para Moscou, ‘será difícil avançar no diálogo, se permanecer sem solução a questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo’ (termo usado para designar os greco-católicos ucranianos com rito oriental, mas fieis ao Papa).


Oposição da Igreja Ortodoxa da Geórgia não obstaculiza a aprovação

A redação do documento foi iniciada no decorrer da precedente Sessão Plenária da Comissão - realizada em Amã, Jordânia, em 2014 – e concluída pelo Comitê de Coordenação da Comissão durante a reunião de 2015, em Roma.

Em Chieti – havia explicado uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé – os membros da Comissão serão chamados a avaliar se tal esboço espelha em maneira adequada o consenso atualmente existente sobre a delicada questão da relação teológica e eclesiológica entre Primado e Sinodalidade na vida da Igreja ou se será necessário continuar a aprofundar a temática’.


Consenso alcançado

Segundo o Patriarcado de Moscou, o consenso foi alcançado, mesmo que a Igreja Ortodoxa georgiana ‘tenha expresso desacordo com alguns parágrafos’ do documento. A declaração dos georgianos está contida em uma nota no comunicado final adotado pela Sessão Plenária. Uma ulterior mensagem sobre este tema será inserida também no documento conjunto, que será publicado em breve pela Comissão.

Trata-se de uma decisão encorajadora – sublinharam alguns analistas – visto que os ortodoxos não permitiram que o desacordo da Igreja georgiana impedisse a adoção do documento. Os georgianos ortodoxos estão demonstrando uma certa propensão em seguir pelo próprio caminho, também em relação a este tema. Nos trabalhos precedentes, o Concílio Pan-Ortodoxo de Creta, por exemplo, foram os únicos a oporem-se ao matrimônio entre ortodoxos e não-ortodoxos.


Uniatismo e o tema da próxima Plenária

Em Chieti, sede do atual encontro, não chegou-se a um acordo sobre o tema da próxima Sessão Plenária, que o Patriarcado de Moscou auspicia que possa debater a questão do uniatismo. Foi decidido que a escolha do tema será feita na reunião do Comitê de Coordenação da Comissão Mista, que terá lugar no decorrer de 2017.

Na Plenária de Chieti, o Chefe da delegação ortodoxa-russa, Metropolita Hilarion, advertiu que a ação da Igreja Greco-católica na Ucrânia é ‘inaceitável do ponto de vista da ética cristã’. O dedo é apontado diretamente contra o Arcebispo Mor de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, cujas declarações anti-russas – segundo Moscou – ‘estão em contraste com o nosso diálogo e semeiam desconfiança entre ortodoxos e católicos’. Devemos estar conscientes de que dentro de nossas Igrejas existem pessoas que obstaculizam o nosso caminho e devemos recordar disto quando pensamos no futuro de nosso diálogo’.

Outro membro da delegação ortodoxa russa, o Arquimandrita Irineu, sublinhou que ‘será difícil avançar no diálogo católico-ortodoxo, se esta questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo permanecer sem solução’. ‘O objetivo de nosso diálogo é o de chegar a um acordo sobre questões em que já estamos de acordo, mas devemos discutir também os problemas que nos dividem. E o tema do uniatismo é um problema extremamente atual, um daqueles centrais no segundo milênio’.

Nos trabalhos da Comissão Mista – presididos pelo Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e pelo Arcebispo de Telmessos Iob (Getcha), do Patriarcado Ecumênico – participaram dois representantes de cada uma das 14 Igrejas Ortodoxas autocéfalas, além de representantes católicos.’


Fonte :