segunda-feira, 24 de abril de 2017

Missão possível

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre António Rego,
Missionário Comboniano


‘Foram variando os nomes ao longo dos tempos : o mais velho, ancião, idoso, patriarca, terceira idade. Nenhuma expressão se atreveu a tornar-se única. Uma certa procura de dignidade foi repescando sinônimos para tornar menos humilhante o tempo da vida que falta viver. Com a subida da média etária, os mais velhos são cada vez mais ‘jovens’ e mais longamente idosos. Mas, no barco da vida, eles vão chegando à proa, gerando desequilíbrio, fazendo ondas que ameaçam os da retaguarda, a segurança social, olhando para trás sem verem quem lhes siga o rasto porque faltam crianças e jovens. Não é só a economia de um país que se ressente. Parece ser o equilíbrio do planeta que está em risco. O ‘excesso’ de velhice levou um indiano, não há muito, a exclamar : «A morte esqueceu-se de mim

É bom, entretanto, recordar o valor do idoso, por exemplo, na tradição africana: «Quando morre um velho, é uma biblioteca que arde Transmitem a cultura e a sabedoria. Estão no centro da roda da família. Diz-se que em alguns lugares esse posto foi ameaçado e os jovens passaram para o centro e não ouvem nem reconhecem a autoridade ‘do mais velho’.

A mudança é inevitável, mas não exige a expulsão do seu lugar simbólico. Em boa parte, estão mais ativos. Têm o tempo que nunca tiveram para olhar e acompanhar a família, derramar afetos e atenções ao que lhes tinha passado de raspão nos anos em que a vida voou. Ganham estatuto patriarcal, como avós, apoio de filhos e netos, com um segundo olhar sobre os fatos, iluminado pela sabedoria que recorta, no tempo e no espaço, os acontecimentos que se atropelam. Têm disponibilidade e energia para os outros, para os ver e ouvir melhor, não obstante o embaciado do olhar e a rigidez do ouvido.

Aqui chegados há que exigir um novo olhar da sociedade que os expulsa por comodidade para os lares, muitos sobrelotados de pessoas e vazios de afeto para com os idosos que têm vida para viver e para dar. A Igreja tem integrado na sua missão a atenção aos mais idosos para que se encontrem, reflitam, rezem e aprendam. E não tenham medo de se integrar na comunidade com todas as fragilidades que o tempo acarreta. Trata-se de respeitar um capital adquirido que se não deve expulsar nem esconder. Têm beleza e esplendor as suas rugas. Podem, a partir da família, ou do lar como recurso, alimentar os seus contatos na partilha e abertura a outras culturas, continentes, ações de desenvolvimento e solidariedade, envoltas no anúncio da vida e do Evangelho. E sentirem a importância da sua vida na missão de mestres, na leitura serena dos sinais dos tempos. E na permuta com outras gerações que lhes dão ânimo para prosseguirem na aula continuada da vida. Como na oração que alavanca o mundo na sua grandeza e miséria. O despojamento dos idosos, mais que uma fragilidade, é um estado de alma que abre portas à passagem de Deus, reconta o rosário da experiência espiritual, longe da ambição, do egoísmo, da corrida desenfreada para chegar ao primeiro lugar.’


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