sexta-feira, 21 de julho de 2017

As mãos de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano


‘Procuramos acelerar o passo, mas acabamos por chegar ao Cenáculo de Jerusalém um par de minutos depois das seis da tarde. Já estava fechado.

No dia seguinte, de manhã, enquanto os do nosso grupo aproveitavam para fazer compras, antes do regresso, eu e um casal amigo decidimos voltar lá : não podíamos partir de Jerusalém sem passar no Cenáculo. Subimos ao primeiro andar, à sala grande; cada um de nós arranjou um canto onde se sentar a saborear aquele lugar extraordinário.

Na minha imaginação desfilaram velozes os acontecimentos que ali se tinham passado. Quem sabe quantas vezes Jesus se tinha encontrado ali com grupos de amigos. Foi ali a última Ceia, e o Pentecostes. Com as portas fechadas com medo dos Judeus, ali estavam naquele dia os onze apóstolos, Maria, a mãe, quase certamente a família amiga de Betânia – Maria, Marta, Lázaro – e outros. O Evangelho de João diz que Jesus «estava» no meio deles, e todos se encheram de alegria ao «ver» o Senhor. Jesus não precisou entrar porque estava já com eles. Sempre presente com os seus, depois da sua ressurreição. Nesse momento, Ele deu-lhes a possibilidade de o verem e de o ouvirem. Reconhecem-no olhando as suas mãos e o seu peito, não se fala do seu rosto! As mãos, na cultura dos Israelitas daquele tempo, significavam a capacidade de agir, a força, as obras de uma pessoa.

Ao fim daquele encontro Jesus sopra o seu Espírito Santo sobre eles. O verbo que São João usa para o «soprar» de Jesus é o mesmo que o livro do Gênesis usa para o «soprar» do Criador, quando pega no Adão de barro e lhe sopra nas narinas para ele começar a viver.

O sopro de Jesus ressuscitado é o mesmo sopro criador de Deus como as suas mãos são as mãos de Deus. Disse alguém que Jesus veio ao mundo para nos revelar as mãos de Deus : o que Deus gosta de fazer na vida das pessoas, o seu trabalho criador na natureza, o toque dos seus dedos que abre os ouvidos dos surdos e que faz ver aos cegos as maravilhas do nosso mundo, o toque da sua mão que faz que outras mãos se encontrem e se unam para caminhar juntos na vida. Podíamos entender quase todo o Evangelho seguindo os gestos das suas mãos. Mãos que, ao fim, aceitam ser trespassadas para dizer que o Amor de Deus não desiste diante das nossas maldades, mesmo as mais cruéis. Mãos que agora, ali no Cenáculo, dizem que o amor de quem se dá aos outros sem limites tem por diante uma vida que é eterna.

Não só conseguiram «ver» Jesus. Também o ouviram : «Como o Pai me enviou, agora eu vos envio...» É como se dissesse : o Pai confiou-me as Suas mãos; agora confio-vos as minhas, e sopro dentro de cada um de vós o meu Espírito Santo, para que as minhas mãos continuem a viver e a agir nas mãos de cada um de vós. Sereis capazes de oferecer o perdão de Deus, e todos os outros dons que recebestes de mim. Sou eu quem vos envia! E soprou.

E depois daquele sopro, as portas daquela sala abriram-se, os discípulos partiram, as mãos de Jesus nas mãos deles, e a viagem que ali começaram naquele dia continua ainda hoje pelos caminhos do mundo inteiro.

Saí daquele primeiro andar, à beira das muralhas antigas da cidade de Jerusalém, com o coração cheio de emoções. E algumas horas depois estava a caminho do aeroporto de Telaviv para a viagem de regresso à minha «Galileia».’


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