domingo, 16 de julho de 2017

Vandalismo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

O vandalismo não tem limites. É praga daninha que contamina tudo em redor.
 *Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor
  
‘Os Vândalos eram uma tribo de origem germânica, que durante o século V invadiu o Império Romano e instalou-se em Cartago, no norte da África. No ano 455 atacaram e saquearam Roma, ali destruindo importantíssimas obras de arte que se perderam para sempre. Inspirado nesse brutal acontecimento, surgiu o nome ‘vandalismo’ para definir as ações irracionais de depredação de bens públicos ou privados, pelo simples prazer de destruir. Esse termo foi usado pela primeira vez em 1794, pelo bispo Henri Grégoire da comuna francesa de Blois, às margens do rio Loire, para denunciar a destruição de monumentos, pinturas e livros durante a Revolução Francesa. E firmou-se na história pelo envolvimento do pintor Coubert (1871), liderando a destruição da Coluna Vendôme, em Paris, que considerava símbolo da detestada autoridade napoleônica. Foi possível reconstruí-la posteriormente, sendo hoje um dos marcos da capital francesa.

Séculos se passaram, a humanidade progride admiravelmente em alguns aspectos, mas frequentemente comporta-se como os Vândalos do século V. Na segunda guerra mundial, obras históricas de arte forma roubadas ou destruídas pelos nazistas de museus europeus. Já em pleno século XXI, assistiu-se a destruição das estátuas de Buda do século IV, pelos talibãs, em 2001, e a destruição da parte antiga de Palmira, cidade síria fundada no período Neolítico, e violentada em 2015 pelos bárbaros do Exército Islâmico.

Mas os novos vândalos continuam em atividade, também em território brasileiro. Basta caminhar pelas capitais e cidades do interior, para encontrarmos monumentos e construções históricas vandalizadas por grafiteiros, parcialmente destruídas por arruaceiros, tudo sob o olhar complacente de nossas autoridades que falam muito, mas agem pouco, e com tal brandura que cada ação destrutiva realizada impunimente se torna um incentivo aos novos bárbaros, que numa prática imbecil de emulação, suja mais, destrói mais, para superar os bandos rivais, em busca de sórdidas vanglórias.

Nem as propriedades privadas ficam livres desses depredadores. Carros são arranhados, suas peças externas são arrancadas, casas são mutiladas, lugar algum está a salvo desses bandidos. O mais deplorável é verificar que nem sempre se trata de gente ignorante, de baixo nível cultural ou econômico, sendo, com frequência identificadas como pessoas cujo estado social e cultural fazia supor que jamais fossem capazes de tais barbáries. Basta entrar em campus universitários para descobrir, em suas diversas instalações, a ação nefasta desses indivíduos. Banheiros imundos, instalações hidráulicas quebradas, paredes rabiscadas, equipamentos roubados, nos levando a questionar que profissionais estão sendo formados em nossas universidades.

Com os desmandos políticos que arrasam o país de ponta a ponta, surgem os mais do que justos movimentos populares de protesto, que reúnem milhares de pessoas nas ruas e praças denunciando, em alta voz, a corrupção instalada nos diferentes poderes da nação. Os que legitimamente participam desses movimentos, os conduzem com objetividade, seriedade e respeito aos direitos alheios. Contudo, a eles se misturam os vândalos, que na covardia que os caracteriza, escondem-se sob máscaras para ocultá-los com suas intenções malévolas.

Aproveitando-se das multidões, partem para as depredações, quebram vitrines, arrombam lojas, saqueiam-nas, tal e qual fizeram os Vândalos da história, nas ruas de Roma. Instrumentalizados e manipulados por grupos políticos que pouco se importam com a crise econômica e administrativa que assola o Brasil, tentam ampliar o caos e dele tirar proveito pessoal, roubando a varejo, enquanto seus mentores disfarçam seus roubos no atacado.

O vandalismo não tem limites. É praga daninha que contamina tudo em redor. Os estádios de futebol, lugar de diversão para a grande maioria dos brasileiros, hoje são campos de batalha onde só os temerários ou os apaixonados pelos seus clubes, se arriscam ir. Os bárbaros se infiltram entre eles, disfarçados em torcidas organizadas, e aproveitam as circunstâncias para extravasar sua imbecilidade sanguinária. O resultado se vê na mídia do dia seguinte, com os graves prejuízos para os clubes, torcedores gravemente feridos e até mortos, e como em todas as demais situações, muita revolta, muito pranto, mas nenhuma justiça, nenhuma punição exemplar. Afinal, vivemos hoje os tempos aziagos do ‘é proibido proibir’, da cômoda presunção da inocência de todos, dos defensores de porta de distrito, sempre ágeis em tirar proveito pecuniário do vandalismo que nada nem a ninguém respeita.

Tudo isso me faz lembrar do colégio Loyola, que me ensinou, e a meus colegas, respeito aos pais, aos professores, às outras pessoas, e à coisa pública, mas também o latim, com o protesto de Cícero contra Catilina, no senado romano (séc. I aC) : ‘Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?’ (Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?).’


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