quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Por uma teologia atenta

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Um dos riscos dos cristãos é trabalhar com sujeitos etéreos, que só existem no campo do imaginário, sem se envolver com os problemas reais da comunidade em que se estão inseridos.
*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em
teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
  

‘Que hoje se viva dentro de uma sociedade individualista e que se preocupa extremamente consigo mesma é um dado que, provavelmente, a maioria das pessoas irá concordar. Essa forma de viver é observável em diversas esferas do cotidiano, desde as relações familiares, passando pelas relações de trabalho até chegar às relações dentro das igrejas que se frequentam todos os domingos.
 Uma das características dessa sociedade individualista é a falta de atenção para com aqueles que estão mais próximos e, disso, a comunidade cristã, obviamente, também não está isenta. Muitas vezes, essa comunidade, nas diversas preocupações, algumas até mesmo legítimas, a respeito dos congressos a se realizar, dos encontros de jovens a se organizar, das atividades administrativas a se fazer e dos cultos a se preparar, se esquece do principal que é a atenção que deve ser dada àqueles que estão organizando essas coisas, bem como àqueles que são o alvo de todos esses esforços.
 Nesse sentido, a ânsia de se ter tudo perfeito acaba desviando o olhar para aquilo que é mais importante, ou seja, o relacionamento pessoal e de amor que deve se fazer presente no meio da comunidade.
 Os teólogos e teólogas, muitas vezes, também seguem essa mesma dinâmica. Em seus discursos a respeito do se importar com os outros, do olhar para o necessitado, assumindo sua causa e lutando em seu favor, diversas vezes se esquecem de que esse necessitado está mais perto do que se imagina, estando, não raras às vezes, dentro da própria casa, sendo um filho ou filha que sente a ausência dos pais porque esses nunca estão presentes, pois estão organizando coisas em suas igrejas, ou uma mãe e um pai que precisam de cuidados especiais devido à idade, ou ainda um irmão ou irmã que está em crise devido a diversos fatores, dentre tantos outros exemplos que se poderiam citar.
  Nesse sentido, é importante que os representantes desse discurso teológico de auxílio aos necessitados estejam atentos ao lugar onde eles se encontram no dia a dia da comunidade. Isso, claramente, não quer dizer olhar somente para suas próprias relações pessoais e familiares, esquecendo-se dos demais, mas, justamente, ter a atenção de que, muitas vezes, o necessitado do qual tanto se fala está clamando ao seu lado.
 Um dos riscos dos cristãos é trabalhar com sujeitos etéreos, que só existem no campo do imaginário, sem se envolver com os problemas reais da comunidade em que se estão inseridos. Quando isso acontece, é comum que as respostas dadas aos problemas das pessoas e da sociedade sejam rápidas e fáceis, uma vez que sujeitos ideais têm também soluções ideais. Contudo, uma teologia assim não responde às questões da sociedade. Somente se entrando na realidade, atento a ela em suas diversas nuanças é que é possível propor respostas para questões concretas, que afligem realmente os envolvidos nelas.
 Diante disso, é urgente que se desenvolva uma teologia que se mostre atenta e se envolva com os problemas da comunidade, sejam os de perto, sejam os de longe, ouvindo os necessitados e agindo concretamente para os auxiliarem em suas questões, trazendo com isso, a boa nova de que Deus está atento à humanidade e se importa com ela.’

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