domingo, 30 de dezembro de 2018

Cristãos: entre bárbaros e humanizados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 'Cristo no deserto', de Ivan Kramskoj, 1872.
'Cristo no deserto', de Ivan Kramskoj, 1872

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja


Há uma nova invasão bárbara : a dos 'cristãos' que 'descristianizam' a doutrina de Cristo.


Isso foi tão levado a sério pelos cristãos dos três primeiros séculos que não é difícil encontrar entre os escritos dos padres da Igreja algo que represente esta máxima : onde não há solidariedade e amor ao próximo, não há cristianismo. É certo que não estamos atribuindo às primeiras comunidades cristãs uma ideia de perfeição que muitos grupos ideológicos contemporâneos acabaram resgatando. Porém, historicamente, não podemos negar que os primeiros seguidores do judeu ‘filho do carpinteiro’, condenado como o pior dos criminosos pelos seus algozes, atraiu um grupo de pessoas convictas. Nos escritos cheios de vida compostos por testemunhas oculares e neoconvertidos, essas pessoas encontraram um modo de se libertar dos fardos interiores impostos pela estrutura social do império romano. Por exemplo : um estrangeiro não podia participar da famosa distribuição de grãos promovida pelo imperador por não possuir a cidadania romana. Por isso, acredita-se que o ‘banco de caridade’, criado por algumas comunidades cristãs do Ocidente, servia para atender justamente essas pessoas. Inicialmente, o cristianismo surge, portanto, como uma proposta de inclusão, sobretudo para quem ‘não era ninguém’. É tanto que Papa Calisto I (155-222) traz em sua biografia um passado que, para qualquer cidadão romano do período, era condição mais infame perante a qual ninguém poderia se orgulhar : a de escravo. Isso mesmo : um ex-escravo - ou liberto, usando a nomenclatura correta - tornou-se um dos mais importantes papas do período.

A mensagem cristã apareceu como uma proposta de refrigério em meio a uma sociedade que divinizava tiranos e massacrava os mais fracos : de repente, uma doutrina sustentada por lunáticos - como os cristãos eram considerados - chegou a todas as camadas da sociedade, sem distinção. Os adeptos desse novo movimento religioso chocavam por chamarem uns aos outros de irmãos - o que lhes rendeu acusações de incesto; supersticiosos, por seguirem uma seita -  já que, para os romanos, a nova doutrina que se formava não se enquadrava nos parâmetros da religiosidade tradicional; e por fim, ignorantes por, em sua maioria, não privilegiarem somente aqueles mais doutos ou homens de posse. A propósito disso, o filósofo Celso, no seu famoso discurso Celso contra os cristãos, do século III, escreveu : ‘De fato, as pessoas desse tipo são dignas do seu próprio deus. Eles (os cristãos) admitem abertamente que somente os burros, ignorantes, insensatos, escravos, mulherzinhas e crianças cheguem à tal conversão’.

A coisa mais contraditória é que, atualmente, não sãos ‘os pagãos’ a se queixarem da abertura da Igreja àqueles que mais necessitam dela, mas os cristãos ‘barbarizados’ do presente que, através de uma ideologia pautada por um discurso político travestido de cristão, convocam cruzadas contra pessoas, não contra aquilo que as ameaçam verdadeiramente : a descrença no amor.

 Um filósofo e historiador italiano do século XVII chamado Giambattista Vico, tido como autor do conceito de verum ipsi factum - a verdade está no fato -, foi um dos primeiros pensadores a interpretar a história como ciência, contrapondo-se corajosamente a Descartes, à época . Vico divide a história em três fases : a dos deuses (quando o homem se utiliza dos mitos para interpretar os acontecimentos); a idade dos heróis (quando nascem as aristocracias) e a idade dos homens (quando os homens operam com a razão, promovem a reflexão e criam estruturas). Nessa última fase, o escritor italiano, como grande teórico dos ciclos da história, reflete sobre o retorno à barbárie. Para ele, quando uma civilização chega ao cume da sua ‘maturidade’ há o grande risco de cair de novo na barbárie, uma vez que o egoísmo, a renúncia às tradições e a desagregação promovem lentamente a sua própria decadência, a sua desumanização. E sobre o nosso cristianismo : estaríamos hoje promovendo o seu caráter humanizador em nossa sociedade, ou o estamos transformando em instrumento dessa barbárie politizada?’


Fonte :  

sábado, 29 de dezembro de 2018

A situação do cristão do futuro

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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Karl Josef Erich Rahner 


Transcrevemos a seguir, trecho do livro ‘O cristão do futuro’ em que Rhaner destaca : ‘não será uma filosofia cristã que será proclamada como ideologia oficial da sociedade. Os cristãos serão o pequeno rebanho do Evangelho, talvez respeitado, talvez perseguido, talvez dando testemunho da santa mensagem de seu Senhor com voz clara e respeitada.’

Confira :

 ‘Para promover o entendimento de algumas das características mais importantes deste decreto (visto que é impossível lidar com ele em sua inteireza, e visto que a maior parte dele já é familiar), talvez me deva ser permitido um pequeno experimento mental. Se for bem sucedido, estará tudo muito bem; se não, não tenho ninguém para responsabilizar senão a mim mesmo, e isso não é uma coisa ruim. Quero colocar-me na situação de um católico comum do futuro, particularmente o de um leigo, e perguntar o que especialmente o afeta neste documento. Não importa se a situação ocorrerá daqui a 20, 30 ou 100 anos.

 Não sou profeta, e se de fato estou tentando descrever essa situação de um católico futuro, com a pressuposição necessária do experimento, então a descrição não é uma profecia mas um sonho. Quer seja pesadelo, uma utopia feliz ou sem sentido, é uma questão que igualmente não precisa ser levantada.

 Nesta data futura haverá comunidades católicas ou cristãs por todo o mundo, embora não distribuídas uniformemente. Por toda parte haverá um pequeno rebanho, porque a humanidade cresce mais rapidamente do que a cristandade e porque os homens não serão cristãos por costume e tradição, por causa das instituições e da história, ou por causa da homogeneidade de um ambiente social e opinião pública, mas - desconsiderando o zelo sagrado do exemplo paterno e a esfera íntima dos clãs, famílias e pequenos grupos - eles serão cristãos apenas por causa de seu próprio ato de fé, obtido numa luta difícil e continuamente reconquistado. Por toda parte, haverá diáspora. O estágio da história humana será mais uma unidade simples do que já é; todos serão vizinhos de todos, e a ação e a atitude de cada um contribuirá para determinar a situação histórica objetiva de todos. E ‘Cada um’ significa cada nação, civilização, realidade história e, proporcionalmente, cada indivíduo. Sem dúvida o campo da história universal será muito diferente em qualidade de lugar para lugar, com algumas partes em contradição, mas formará uma unidade na qual tudo interagirá historicamente. E visto que os cristãos formarão apenas uma minoria relativamente pequena, sem campo de existência histórica independente, eles, embora em graus variados, viverão na ‘diáspora dos gentios’.

 Em nenhuma parte haverá ‘nações católicas’ que coloquem uma marca cristã sobre os homens antes de qualquer decisão pessoal. Por toda parte, os não cristãos e os anticristãos terão plenos e iguais direitos, e talvez possam pela ameaça e pressão contribuir para dar à sociedade seu caráter e até mesmo crescerem juntos em poder e jurisdições como sinais e manifestações do anticristo. E onde quer que, em nome da necessidade de educação e organização uniforme, o Estado ou talvez o futuro super-Estado estabeleça por imposição uma única ideologia, com todos os meios de pressão e formação modernas de enormes multidões de homens, não será uma filosofia cristã que será proclamada como ideologia oficial da sociedade.

 Os cristãos serão o pequeno rebanho do Evangelho, talvez respeitado, talvez perseguido, talvez dando testemunho da santa mensagem de seu Senhor com voz clara e respeitada no coro polifônico ou cacofônico do pluralismo ideológico, talvez apenas em uma voz baixa, de coração para coração. Eles estarão reunidos ao redor do altar, anunciando a morte do Senhor e confiando as trevas de sua própria sorte - uma escuridão de que ninguém será poupado mesmo no super-Estado de Bem-Estar do futuro - às trevas da morte de seu Senhor. Eles saberão que são como irmãos e irmãs um do outro, porque haverá poucos deles que não têm por sua própria decisão deliberada fixada em seu próprio coração e vida em Jesus, o Cristo, pois não haverá vantagem terrena em ser um cristão. Eles certamente preservarão fiel e incondicionalmente a estrutura de sua sagrada e não mundana comunidade de fé, esperança e amor, a Igreja, como é chamada, como Cristo a fundou. Eles certamente farão uso livre de tudo que o futuro lhes oferecer em termos de organização, comunicação de massa, tecnologia, etc.

 A Igreja tem sido conduzida pelo Senhor da história para uma nova época. Ela dependerá em tudo da fé e do santo poder do coração, pois ela não será mais capaz de extrair alguma força, ou muito pouca, do que é puramente institucional, e que não mais sustentará o coração dos homens, mas a base de tudo que é institucional será o próprio coração dos homens. E assim, eles perceberão que são irmãos e irmãs, porque no edifício da Igreja cada um deles, quer ocupando o ofício, ou sem ofício, dependerá sempre do outro, e aqueles no ofício reverentemente receberão toda obediência dos outros como um maravilhoso dom livre e amoroso. Não será apenas o caso, mas também será claro e evidente ver que toda dignidade e todo ofício na Igreja é serviço não convencional, não levando consigo honra aos olhos do mundo, não tendo importância na sociedade secular. Mais aliviado de tal responsabilidade, talvez (quem sabe?) não mais constituirá uma profissão no sentido social e secular.

 A Igreja será um pequeno rebanho de irmãos da mesma fé, da mesma esperança e do mesmo amor. Ela não se orgulhará disso, e não pensará de si mesma como superior às épocas mais antigas da Igreja, mas obediente e agradecidamente aceitará sua própria época como a que é designada para ela por seu Senhor e por seu Espírito, e não meramente que é forçada a ela pelo mundo perverso.


Fonte :  

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quem critica o papa entende de papado?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Papa Francisco durante missa na Basílica de São João de Latrão, em Roma.
Papa Francisco durante missa na Basílica de São João de Latrão, em Roma.

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja


Algumas reflexões sobre as análises infundadas sobre o papado contemporâneo.


As análises marginais que se fazem dos papas dá espaço para uma ‘ideologização pontifícia’ sem fim : fizeram isso com João Paulo II, Bento XVI e o fazem com Francisco. As ‘massas’ acabam adotando o papa que mais se adequa aos anseios e às orientações políticas dos pequenos grupos que as manobram. De repente, aqueles que outrora se diziam fiéis ao papa, independente de quem fosse, são os mesmos que, atualmente, fazem um jogo sujo para desqualificar o pontificado de Francisco, desconsiderando a sua importância em meio a essa tentativa de reaproximação entre igreja e sociedade. Para não citar que, durante o caso Viganò, puseram sobre o papa toda a responsabilidade de uma situação que, na verdade, deveria recair por primeiro sobre a conferência episcopal americana, o atual berço ultramontanista do catolicismo, onde, como podemos observar a partir dos últimos acontecimentos, o corporativismo eclesiástico impera de maneira ostensiva e descarada.

Por trás dessa tendência de contrapor papas está, na verdade, aquela velha desonestidade intelectual ou uma falsa intelectualidade pautada pela lista de constituições, encíclicas e documentos decorados que foram completamente extraídos do contexto histórico. Não venha me dizer, por exemplo, que Pio XII, durante todo o seu governo, se limitou a atacar o comunismo stalinista ou que o Sillabo contra o modernismo de Pio IX pode integralmente se adaptar ao que se vive no presente.

O pontificado de Pio IX, o papa que presenciou a queda do estado pontifício e, por conseguinte, o fim do poder temporal do papado, pode nos oferecer algumas chaves de leitura para entendermos esses fenômenos do presente. O exílio de quase um ano e meio desse papa o transformou em um herói e resgatou algo que o renascimento dos ‘papas-príncipes’ tinham roubado : a devoção e o respeito ao sumo pontífice. Através de uma distribuição de ‘santinhos do papa prisioneiro’, entre os anos 1849 e 1850, se estruturou em Roma um movimento que lutava em favor do papa e promovia sua figura, algo que desde o século VIII não se observava. A partir de então, sobre todos os papas que o sucederam recaiu novamente aquela aura de santidade, que na visão escatológica do homem da baixa idade média, deveria pairar sobre o homem escolhido por Deus para governar sua igreja. Porém, para os neo-ultramontanistas das Américas é como se Francisco quebrasse esse ciclo.

Por outro lado, assim como alguns atribuem a determinados ritos o título ‘missa de sempre’ sem qualquer conhecimento de causa, fazem o mesmo com a figura do papa, transformando-o em um semideus salvaguardado pelo dogma da infalibilidade e em uma figura transcendente desprovida de um programa de governo pensado e bem estruturado. É por isso que Francisco, ao se apresentar como bispo de Roma em sua primeira aparição pública após o conclave, em 2013, assustou os mais ‘pios’. Se concentraram muito na ‘mozzetta’ vermelha que ele não utilizou em vez de colherem a profundidade do gesto : o papa quis demonstrar que, desde o primeiro dia de pontificado, trabalharia em prol da colegialidade.

 Para se entender um papado é necessário levar em consideração todo e qualquer movimento do pontífice : das viagens apostólicas que ele escolhe realizar às visitas privadas que ele recebe semanalmente na casa Santa Marta. Do contrário, o papa vira meme, slogan e um personagem instrumentalizado para atender aos interesses de grupos que não querem o bem da igreja nem de longe.’


Fonte :  

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A festa cristã

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 HOLY FAMILY
*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ



No momento atual é importante colocarmos o adjetivo ‘cristã’ na festa que ora celebramos, pois nem sempre esse aspecto fica claro para as pessoas. A imagem midiática que a maioria tem do Natal é que a data é uma ótima oportunidade de compras e vendas, de dar e receber presentes, de comidas, bebidas em abundância, de visitas de confraternizações.

Não há dúvida de que alguns desses aspectos podem até mesmo entusiasmar as pessoas, em especial as crianças, e fazem parte do nosso imaginário que trazemos desde a infância.

Porém, atualmente, estamos esquecendo um outro aspecto central no momento de Natal, que, de uma certa forma, também trazemos impresso em nossa memória : as celebrações litúrgicas que marcam a data, dando sentido ao conteúdo principal da festa : o Mistério da Encarnação!

O Natal foi sendo trabalhado por muitas gerações e circunstâncias e, de uma certa forma, todas têm uma ligação com essa solenidade, mas que, infelizmente, aos poucos tem perdido o seu centro. Quantas vezes escutamos que as pessoas não puderam participar da celebração por causa das visitas dos parentes e amigos que chegaram, porque estavam preocupadas em fazer ou comprar a comida ou até mesmo enfeitando a sua residência?

A imagem da família indo para a Igreja para participar da Missa da Noite de Natal ou mesmo no Dia de Natal está ficando meio esquecida, devido à falta de incentivo e motivação para que essa imagem continue como uma atitude concreta.

A alegação do medo da violência para o deslocamento noturno é apenas uma parte da desculpa, pois para outros eventos e circunstâncias a movimentação é possível e acontece, embora, infelizmente, essa razão tenha um fundo verdadeiro, mas que não exclui ainda a nossa liberdade de locomoção.

A celebração do Natal é a do acontecimento único e exclusivo em nossa História : Deus, o totalmente outro, um único Deus em três Pessoas, veio morar entre nós! O Verbo eterno do Pai ‘se encarnou’, tomou a nossa carne! Quando chegou o momento certo, Deus enviou o seu Filho nascido da Virgem Maria para ser o nosso Salvador como havia prometido. Com o nascimento de Jesus Cristo, começa a nossa Redenção. Esse acontecimento é o centro da História humana, a tal ponto que os anos passam a ser contados em ‘antes’ e ‘depois’ de Cristo.

As questões periféricas sobre o ‘dia do nascimento de Cristo’ e o erro na contagem dos anos não tiram a centralidade desse acontecimento único : a intervenção de Deus em nossa vida! Veio para o que era Seu, e os seus não o receberam, lamenta a Escritura. Com Cristo temos a nova criação, o Novo Adão, do qual somos todos descendentes, já que salvos por Ele.

Porém, aqu’Ele que veio para todos (universalidade da salvação) derramou o sangue para muitos, recordando que nem todos acolhem a Sua Palavra e a Revelação do Caminho para a vida eterna. E o apelo do Natal é para que, celebrando o seu nascimento hoje, aprofundemos o encontro com Ele, pois com a Encarnação nós O encontramos em cada irmão e irmã.

Ao celebrarmos o Natal, a festa cristã, não estamos apenas recordando um fato passado, mas sim atualizando para hoje essa realidade. Ao recordarmos que Jesus Cristo nasceu historicamente e que Ele virá um dia escatologicamente, queremos aprofundar o nosso encontro com Ele no tempo que se chama hoje. Ele, que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, tornou-Se a nossa ‘ponte’ de encontro. Ele é o Pontífice que nos leva a caminharmos para a união com a Trindade, e nos traz a vontade de Deus para que vivamos segundo os planos do Pai.

Por isso, o tempo do Advento que acabamos de celebrar foi a oportunidade de purificarmos o nosso coração e a nossa mente para que o Natal seja realmente uma festa cristã.

Não imaginava que um dia fosse necessário em nossa realidade ter que ‘adjetivar’ essa festa, como acontece em alguns países do Oriente em que alguém precisa se apresentar como ‘sacerdote de Jesus Cristo’ porque se conhece outro tipo de sacerdócio das religiões não cristãs. Ao constatarmos isso em nosso Ocidente ‘chamado cristão’, é uma realidade que nos leva a enfrentar com muita coragem esse desafio de celebrarmos a Vida de Jesus Cristo, que nasce como Messias e Salvador.

Retornando ao centro da festa, até mesmo as outras atividades tradicionais deste tempo adquirem um certo sentido, desde que haja a singeleza e a simplicidade que requer o momento do ‘presépio’.

Natal é vida que nasce, é alegria do encontro com Jesus Cristo como Senhor da Vida e da História, é encontro com os irmãos e irmãs na construção da vida de fraternidade, que é possível para aqueles que creem e O aceitam como Salvador.

Participemos com alegria das celebrações natalinas em nossas comunidades! Talvez esse seja um primeiro passo para não perdermos o sentido da festa cristã. Um povo que segue verdadeiramente a Cristo é um povo que constrói um mundo de irmãos!

Feliz e Santo Natal e uma bênção especial com muito carinho a todos os que são amados por Deus!’


Fonte :  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

As crianças da guerra invejam o estábulo onde Jesus nasceu


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo de Dom Samir Nassar,
 Arcebispo maronita de Damasco



Já fazia mais de 2.000 anos, porém, que aquele texto era atual.

Ao longo dos últimos cinco, ele foi especialmente vivo não apenas na Síria em que foi escrito, mas também no Iraque, na Líbia, no Iêmen, na Venezuela, no Congo, na Somália, na Coreia do Norte, em Mianmar, na Ucrânia…Em tantas partes do nosso planeta, muitas delas já esquecidas.

Eis o texto, tristemente atual, de Dom Samir Nassar, arcebispo católico maronita de Damasco :

Neste Natal, podemos dizer que a Síria é o lugar que mais se assemelha a um presépio : um estábulo aberto, sem portas, frio e desamparado.

O Menino Jesus tem muitos amigos na Síria : milhares de crianças que perderam suas casas e estão vivendo em barracas, pobres como o estábulo em Belém.

Jesus não está sozinho em sua miséria. Crianças da Síria, que foram abandonadas e marcadas por cenas de violência, ainda prefeririam estar no lugar de Jesus : com pais amorosos para cuidar delas e dar-lhes carinho. Esta amargura é claramente visível aos olhos das crianças da Síria, em suas lágrimas e seu silêncio.

Alguns invejam o Menino Jesus, porque Ele encontrou um estábulo para nascer, protegido, enquanto algumas destas crianças sírias infelizmente nascem sob bombas caindo ou no caminho rumo ao êxodo.

E, apesar de suas muitas lutas, Maria não estava sozinha, como muitas mães menos afortunadas que vivem em extrema pobreza e assumem responsabilidades familiares sem a ajuda de seus maridos. Mesmo a precariedade da manjedoura de Belém traria consolo para aquelas mães esmagadas por problemas sem solução ​​e por desespero.

A presença reconfortante de José na Sagrada Família é uma fonte de inveja para as milhares de famílias sem pai – uma privação que gera medo, ansiedade e preocupação. Nossos desempregados invejam José, o carpinteiro, que é capaz de sustentar a sua família.

Os pastores, que com os seus rebanhos se aproximam da manjedoura, lembram os muitos fazendeiros sírios que perderam 70% de seu gado nesta guerra.

A vida nômade, que nesta terra bíblica remonta a Abraão e até mesmo a bem antes dele, desaparece abruptamente, junto aos seus antigos costumes de hospitalidade e cultura tradicional.

Os animais dos pastores se compadecem diante do sofrimento dos seus semelhantes sírios, que, devastados pela violência mortal, perambulam entre as ruínas e alimentam-se dos cadáveres.

O barulho infernal da guerra sufoca o Glória’ dos anjos. Esta sinfonia de Natal é obscurecida pelo ódio, pela divisão e pelas atrocidades.

Que os três reis magos tragam à manjedoura da Síria os mais preciosos dons do Natal : paz, perdão e reconciliação, para que a estrela de Belém possa mais uma vez brilhar em meio à escuridão da noite.

Senhor, escutai a nossa prece.’


Fonte :  

Da dor à esperança: o Natal da comunidade monástica de Deir Mar Musa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Padre Paolo dall Oglio, o jesuíta sequestrado na Síria em 2013  
Padre Paolo dall Oglio, o jesuíta sequestrado na Síria em 2013  

*Artigo da Cidade do Vaticano



Assim começa a ‘carta de Natal’ enviada nestes dias para amigos, benfeitores e amigos dos monges e das monjas de Deir Mar Musa, a comunidade monástica fundada pelo jesuíta romano padre Paolo Dall'Oglio, desaparecido na Síria no final de julho 2013 enquanto se encontrava em Raqqa, naquela época uma fortaleza dos grupos jihadistas em guerra com o exército governamental de Assad.

Imitar Cristo

A carta é aberta pelas reflexões da Irmã Houda Fadoul, atual responsável da comunidade, que recorda que ‘as verdadeiras consolações espirituais nos vêm de Deus nos momentos de oração’, enquanto a possibilidade de dar uma resposta cristã quando somos nós mesmos atingidos pela dor, pode brotar apenas a partir da imitação e da companhia de Cristo, quando ‘unimos a nossa dor àquela de nosso bem-amado Jesus, oferecendo-o a Deus por um mundo de justiça e paz’.

Situação complexa e preocupante

Na sua carta de Natal, os monges e monjas de Mousa traçam um breve relato dos acontecimentos e das obras que marcaram a vida de cada um deles nos últimos tempos, em um contexto eclesial e social ‘complexo e preocupante’.

Na longa epístola comunitária, diz-se entre outras coisas que padre Jacques Murad, o monge sequestrado por alguns meses em 2015 por jihadistas do Estado Islâmico (Daesh) - ‘celebrou a Semana Santa e a Festa de Páscoa com refugiados iraquianos na Turquia. Enquanto frei Jens, no mosteiro confiado à comunidade em Sulaymaniyah, no Curdistão iraquiano’, pode terminar a construção de dois prédios adjacentes à igreja, podendo acolher no primeiro edifício a escola de línguas e formação profissional Mali Dangakan (A Casa das Vozes), que atrai ‘um número crescente de pessoas, porque o estudo das línguas (árabe, curdo, inglês) ajuda a encontrar um emprego e um futuro na região’.

Diálogo inter-religioso

No mosteiro - contam os monges de Deir Mar Musa - ‘a escola de verão deste ano foi distinguida da anterior por ter atraído um grande número de crianças na região, muçulmanos e cristãos, cidadãos e refugiados locais, curdos, árabes, caldeus e sírios. Durante dois meses, as crianças experimentaram juntas a alegria de aprender, desenvolver seus talentos artísticos, fazer passeios e brincar sob a supervisão de professores qualificados e sob o olhar atento do padre Jens’.

Solidariedade

No entanto Irmã Deema ‘passou a maior parte do ano em Mar Musa para acolher, ouvir e ajudar os hóspedes, em particular os jovens que trazem em seus corações a dor da situação na Síria e a esperança de um futuro melhor’.

A carta também atualiza o caminho das escolas de música e aquelas para a infância, animadas pela comunidade, recordando que este ano são 150 crianças crescem e amadurecem em nosso jardim de infância 'Rawdat al-Qalamoun'.

Ajuda aos deslocados

Também são recordadas as obras realizadas em favor das pessoas deslocadas na cidade síria de Qaryatayn, hospedadas nos povoados de Zaydal e Fayrouzé : ‘Houve casamentos, nasceram filhos’, diz a carta, ‘e este fato testemunha o desejo destas famílias de permanecerem na Síria : e é precisamente o que esperamos que possa se realizar, proporcionando a eles ajuda nesses anos’.

A recordação do padre Dall'Oglio

Os monges e monjas de Deir Mar Musa, na sua carta de Natal, também se referem à história do padre Paolo Dall'Oglio : ‘A sorte do nosso irmão e pai fundador ainda é desconhecida. Multiplicamos nossas fervorosas orações a Deus por ele e pelos milhares de desaparecidos na guerra na Síria, dos quais as famílias não têm notícias. Tivemos conhecimento dos doutoramentos em curso sobre a teologia do diálogo islâmico-cristão, tão necessários para o nosso mundo de hoje’.’


Fonte :  

sábado, 22 de dezembro de 2018

O Natal dos cristãos em Aleppo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB

 O Vigário de Aleppo faz votos de que o Natal seja "um momento de festa", ainda que as pessoas "estejam mais cansadas e menos otimistas do que há algum tempo sobre um fim, no curto espaço de tempo, do conflito sírio" que eclodiu em março de 2011.
*Artigo da Cidade do Vaticano



É o que destaca à Ag. Asianews o Vigário Apostólico de Aleppo dos Latinos, Dom Georges Abou Khazen, ao falar do clima vivido na metrópole do norte do país, há anos o epicentro do conflito sírio até ser liberada em dezembro de 2016.

Oração e ajuda aos pobres

Nas últimas semanas, foi palco de um ataque lançado pelos rebeldes com o uso de armas químicas, fazendo a população civil reviver os momentos mais sombrios e dramáticos da guerra.

O prelado fala de ‘ruas, praças e estradas decoradas para a festa’ e ‘prefeitura de Aleppo quis decorar uma árvore de grande porte’ no centro da cidade, como um sinal de proximidade à comunidade cristã.

Programamos novenas, confissões – continua Dom Georges - crianças, jovens e idosos participam com recolhimento das celebrações. Além disso, mesmo diante de recursos limitados, estamos tentando dar um presente aos pequenos e aos pobres’.

Alegria e esperança em Cristo

O Vigário de Aleppo faz votos de que o Natal seja ‘um momento de festa’, ainda que as pessoas ‘estejam mais cansadas e menos otimistas do que há algum tempo sobre um fim, no curto espaço de tempo, do conflito sírio’ que eclodiu em março de 2011.

Apesar de tudo - acrescenta - queremos celebrar o Natal e difundir um sentimento de alegria e de esperança’. Dito isto, a situação na região de Idlib [último reduto rebelde] ‘provoca muito medo e a situação a campo parece complicar-se sempre mais.’

Em sua mensagem aos fiéis, o prelado nos convida a ‘elevar o olhar, para além das dificuldades materiais e confiar-nos a Cristo, a verdadeira fonte da salvação’.

Diálogo inter-religioso na caridade

Sempre em Aleppo, neste período do Advento, a paróquia latina promoveu várias iniciativas de ajuda e solidariedade aos mais necessitados. Entre estas a distribuição de roupas para mais de 900 crianças – e que deverá continuar nos próximos dias. Sapatos, blusões, pijamas, são destinados aos pequenos das classes de catecismo, como presente em vista da festa. Padre Ibrahim Alsabagh, que ‘não para nós cristãos, mas também abraça crianças muçulmanas para quem há sempre um lugar e um pequeno presente’.

Cristãos, voz de Deus

Nestes dias, o sacerdote franciscano encontrou as famílias das crianças do catecismo e disse a elas que ‘esta distribuição é apenas um pequeno gesto, um sinal do amor de Deus’ que acompanha ‘o maior dom que Ele fez à humanidade’, seu próprio filho Jesus Cristo’.  Em Aleppo, continua padre Ibrahim, os cristãos são ‘uma voz’ que testemunha ‘a presença de Deus’.

A distribuição de roupas - conclui - e não somente, mas também todos os projetos que ainda estão centrados na emergência e os que visam a reconstrução, continuam graças ao apoio de todos os membros da comunidade. Quero agradecer àqueles que nos ajudam e apoiam, tanto na ajuda material como na oração ‘com a esperança de um Natal’ de paz e serenidade’.’


Fonte :  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Cristãos no Paquistão celebram Natal sob rígidas medidas de segurança

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Dos 200 milhões de habitantes do Paquistão, apenas 4 milhões são cristãos
Dos 200 milhões de habitantes do Paquistão, 
apenas 4 milhões são cristãos

*Artigo da Cidade do Vaticano



Disposições similares - informa a Agência Fides – também serão adotadas em outras grandes cidades paquistanesas, como Karachi e Lahore, para prevenir ameaças terroristas. O plano especial para proteger a celebração religiosa do Natal no Paquistão, disposto pelas autoridades policiais, está pronto para ser implementado, e as unidades policiais já começaram a visitar as igrejas para uma avaliação dos locais e a adoção das medidas de proteção adequadas.

Sessões de treinamento para voluntários em serviço nas igrejas

Os funcionários da polícia garantiram a cooperação e o apoio total às celebrações do dia de Natal. Agentes serão deslocados para as igrejas de toda a cidade, especialmente durante as Missas da noite e do dia de Natal’, relata à Agência Fides padre Mario Rodrigues, reitor da Catedral de São Patrício, em Karachi. Ele observa que ‘depois da absolvição de Asia Bibi, a situação é muito delicada e temos preocupações, estamos rezando para que tudo corra bem’.

Nos últimos dias, cerca de quinze representantes das comunidades cristãs de várias confissões reuniram-se com policiais em Karachi para falar sobre as necessidades existentes e ajudar a deslocar o pessoal responsável.

O inspetor-geral da Província de Sindh, Syed Kaleem Imam, confirmou que ‘será garantida aos cristãos uma proteção extraordinária durante o período de Natal’. A polícia também organizou sessões de treinamento para os voluntários que servem nas igrejas, e que auxiliarão os serviços de segurança durante o período natalino. Padre Mario informa que ‘mais de 150 cristãos foram treinados para prestar este serviço’.

Mais de 10.000 policiais em Lahore

Em Lahore, mais de 10.000 policiais estarão presentes para proteger as igrejas em áreas sensíveis, bairros cristãos e parques onde os fiéis se reunirão para celebrar o Natal. Conforme anunciado pela Superintendência após um encontro com os representantes cristãos de Lahore, ‘equipes especiais da polícia irão patrulhar as cercanias das igrejas para garantir os mais altos padrões de segurança’, enquanto câmeras de circuito fechado serão instaladas em alguns locais sensíveis.

O pastor Adeel Patras Chaudry, vice-presidente da ‘Jesus Life TV’, canal de televisão cristão paquistanês, declarou à Fides que ‘para o Natal, nós cristãos no Paquistão rezamos de modo especial pela paz. Temos confiança que o governo e a polícia saberão fornecer a segurança necessária aos cidadãos. Rezamos também por eles, empenhados neste serviço importante e arriscado’.’


Fonte :