terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Os esconderijos de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre António Rego,
Missionário Comboniano


‘Do futuro tudo se pode dizer. O tempo esconde sinuosidades, surpresas, acontecimentos festivos e tragédias. Mas também desgastes, desperdícios, arranha-céus e barracas, prémios Nobel, criminosos e heróis desconhecidos. E nós, no escalão social e eclesial em que nos encontramos, seguimos, segundo a nossa capacidade de rejuvenescer ou de nos conformarmos com a mediocridade que nos pode oferecer um caminho com menos custos dentro daquele que já nos custa percorrer.
Mas não vamos sós. Mesmo nos nossos cansaços temos quem vai ao nosso lado, suba, recomece, crie, ressurja das cinzas, vença a fragilidade e o pecado. E, por sermos cristãos e não deixarmos arrefecer a nossa entrega, temos tempo e espaço para a invenção, a conversão e para escrevermos e dizermos sempre algo de novo, para redescobrirmos o Evangelho cada dia, para nos levantarmos de cada queda e olharmos para o lado oferecendo amparo, dando esperança, ajudando a levantar tantos caídos que também nos ajudam nas nossas quedas. A ascese cristã sempre nos estimula a mais um passo, a prosseguir a subida, sentir a luz que vem de cima, fixar os olhos no Mestre que nos chama e deixar estrelas sobre a estrada. Os nossos passos, as nossas palavras, o nosso exemplo, não caem em terra seca, acordaram outros para subir, prosseguir, purificar, amparar, anunciar.
Que bom seria se cada dia fosse o cumprimento simples deste programa que parece complexo, mas reveste a nossa pele a ponto de já o cumprirmos com naturalidade que faz parte da nossa essência.
Apetece-nos sempre perguntar : como se encaixa esta crônica quase angélica na realidade que somos, na dualidade das palavras que usamos, nos tempos mortos da nossa oração, nas quezílias que tantas vezes temperam as nossas relações com os outros, nos tronos e altares que erguemos ao nosso ego, no desprezo ou esquecimento que alimentamos pelos outros?
É nesta dualidade que vivemos, de santos e pecadores, apóstolos e indiferentes, com momentos fortes de interioridade e tempos vazios e inoperantes, gestos destemidos de dádiva e cobardias de egoísmo acumulado.
A tudo isto acresce que não estamos sós. Nem somos apenas dois ou três. As nossas vidas passam-se em comunidade, comunidades múltiplas onde as nossas subidas e quedas são gestos de multidão que professa a mesma fé, parte do mesmo baptismo e está a caminho da mesma Luz, inspirada e animada pelo nosso Mestre, que é a nossa referência constante. É nossa missão acolher e potenciar as energias que ele nos concede e a comunidade que nos estimula e confirma. É nesta direção que todos somos enviados, movendo, ensinando e aprendendo o caminho sempre novo que o Mestre nos indica. Sem nunca perder de vista os sinais dos tempos, a originalidade de cada época, os novos caminhos que sempre se abrem, as surpresas que nos deixam aqueles que não fazem parte do nosso itinerário, nem proclamam a vida com as nossas palavras, nem manifestam sinais de fé. E, todavia, muito têm para nos ensinar por uma escrita única que Deus deixou em cada ser humano. Para O anunciar, urge procurá-lo nestes circuitos tortuosos e desconcertantes em que Deus se encontra onde menos se espera. É nossa missão não apenas proclamá-lo, mas procurá-lo aí, insuspeitamente escondido no manto espesso de cada tempo.’

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