sábado, 13 de janeiro de 2018

Vocação : Luz e vida

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Susana Vilas Boas, LMC


‘Tal como a Epifania, a vocação não é algo estático, situado num determinado momento decisivo na nossa vida. Ela faz parte da nossa vida desde que nascemos e marca toda a nossa existência. Mesmo durante o processo de discernimento vocacional, ainda que este possa ser marcado por caminhos e opções que nos levem noutras direções, a vocação irradia e orienta os nossos passos. Ela é vida, na medida em que se apresenta como luz que nos vai indicando o caminho que somos chamados a percorrer, reclamando uma mudança de direção sempre que nos afastamos dele.

Uma luz brilha nas trevas
Jesus é a luz de todos os povos. E essa luz ilumina e brilha no meio das nossas angústias e dificuldades. Tudo parece ganhar nova vida. No entanto, quanto dura essa alegria? Quanto dura o brilho dessa luz de alegria na nossa vida?
O Evangelho de S. Mateus não deixa dúvidas quanto ao impacto da vinda de Jesus : «O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz» (Mt 4,16). Esta é a certeza que leva ao anúncio do Reino, permitindo que esta luz continuasse a brilhar no coração daqueles que, pelas dificuldades da vida, se sentem isolados nas trevas da tristeza e da solidão.
Com Jesus, a luz brilha nas trevas das nossas interrogações, desafiando-nos a manter esta Luz acesa além do tempo das festividades natalícias. A luz de Jesus acompanha-nos nas nossas canseiras quotidianas se permitirmos que ela continue a brilhar em nossos corações.

A vocação como luz
A vocação é luz orientadora para a nossa vida. É ela quem nos orienta e nos guia no caminho e nas decisões que tomamos. Porquê? Porque a vocação não é nossa, é dom de Deus e, nesse sentido, «é a luz de Deus que regula com uma sabedoria sobre-humana [...] na sua organização admirável; [e, nas adversidades,] é Deus mesmo que, nesta época desafortunada e difícil, faz prosperar esta obra divina no meio de tantas dificuldades» (S. Daniel Comboni, Escritos, 4410). Isso não significa que a vocação é um ‘apêndice’ nas nossas vidas. Ao contrário, é um dom, um presente oferecido por Deus que, em total liberdade, podemos aceitar ou rejeitar. Porém, esta dádiva não é feita por acaso. Ela acontece porque Deus nos quer felizes, uma felicidade que parte daquilo que somos, sem nos mutilar nem nos reduzir a algo que não somos nem queremos ser.
Assim, a vocação é luz que torna o nosso caminho de discernimento, não num caminho de busca angustiante, mas num caminho de luz e esperança; num caminho que estamos certos de não fazer sozinhos. Isso mesmo encontram os discípulos de João Baptista quando, procurando discernir o seu próprio caminho, perguntam a Jesus : «Mestre, onde moras?» Ao que Jesus responde, traçando o caminho certo do discernimento : «Vinde ver» (Jo 1,38-39). O caminho da descoberta vocacional faz-se no seguimento da Luz que é o próprio Jesus que nos chama a segui-lo e a ficar em Sua casa.

Seguir a Luz
Seguir a Luz é desinstalar-se, é pôr-se a caminho com a fé de que seremos conduzidos por um caminho que certamente não será fácil, mas que nos leva à alegria do encontro com a felicidade verdadeira – aquela felicidade que é dom de Deus reservado para nós.
Ninguém nos força a seguir a luz, mas... que acontece quando estamos num espaço escuro e se acende uma luz? Podemos voltar-lhe as costas ou fechar os olhos, permanecendo na mesma condição que estávamos antes, procurando, neste caso, não mexer muito, não fazer nada, para evitar chocar com alguma coisa e ferir-nos – é uma opção que nos leva a refugiarmo-nos no medo. Ao contrário, podemos ousar ir em direção à luz que se acendeu, ainda que correndo o risco de nos ferirmos um pouco no momento em que nos desinstalamos do local obscuro em que nos encontramos.
Fechar os olhos à Luz é andar perdido nas trevas, é andar à deriva sem nunca chegar a um destino. Como discernir a vocação sem tomar decisões concretas na direção em que pensamos ser chamados a seguir? Seguir a luz implica dar passos : caminhar! É sempre uma atitude dinâmica que implica sair de si e ir ao encontro desta mesma Luz que, pouco a pouco, se torna caminho e vida.

Vocação : luz para a vida
A vocação é luz para a vida na medida em que é ela quem guia e orienta as nossas decisões e comportamentos, tornando-se também guia orientador daquilo que somos e daquilo que ansiamos ser.
A vocação, como luz que é dom de Deus, torna-se esperança e força para uma vida que, também ela é dom de Deus. Importa, porém, ter em conta que esta luz brilha para nós, não podendo ser entendida como elemento que vai contra aquilo que queremos e nos força a caminhar em direções contrárias àquilo que somos. Ao contrário, esta é a luz que nos orienta em direção àquilo que desejamos ser, àquilo que Deus sonhou para nós, àquilo que fará plenamente feliz a nossa existência. Em Deus, não há opções infelizes nem escolhas maiores nem menores – todas são, igualmente, de Deus e para Deus. Este Deus que é Pai e nos ama incondicionalmente, independentemente das nossas escolhas e, sobretudo, ama-nos com um amor que nos deixa livres, oferecendo-nos o dom da vocação (dom da felicidade) para que este seja recebido e vivido em plena liberdade.

Viver a vocação para uma vida em abundância
Ousar trilhar um caminho de descoberta da vocação é já um passo para aceitar viver uma vida em abundância. Uma abundância de quê? Jesus não nos promete uma vida de facilidades, mas uma vida de felicidade, em que Ele, caminhando conosco, nos dá força na adversidade e a vitória última daquilo que mais ansiamos.
Viver a vocação é mergulhar na abundância que vem de Deus e que tem Deus sempre presente – é viver uma vida em plenitude de amor, permitindo-nos ir mais longe do que aquilo que poderíamos sequer imaginar.
É para que tenhamos vida em abundância que Jesus veio ao mundo (Jo 10,10) e nos dá uma vocação (verdadeiro chamamento à vida) para que a abundância divina inunde o nosso ser e o nosso quotidiano. Também S. Daniel Comboni nos apresenta o modo como a realização da sua vocação missionária espelha a abundância do dom de Deus quando afirma : «Confiança em Deus toda. O que sei ao certo é que o Plano é vontade de Deus : Deus quere-o para preparar outras obras para a sua glória» (Escritos, 1390). Aqui, o concreto da vocação é vivido na fé de se estar a viver segundo a vontade de Deus e no desejo que os passos dados sirvam sempre para a Sua glória.
A vida em abundância pressupõe, precisamente, o abandono de esquemas egoístas que nos afastam da verdadeira Luz, apresentando a entrega e o caminho que se percorre como percurso para entrar e viver na abundância da alegria que nos vem de Deus.’

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